"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

OS ESTERIÓTIPOS ANTAGÔNICOS

SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO CURADO

É de estarrecer a nota da Agência Estado, dizendo – é literal – que a prefeitura e o Governo de S. Paulo estão buscando usar “dor e sofrimento” como estratégia de combate ao uso de crack.
Seria, em resumo, ir enxotando os usuários e traficantes dos pontos onde se fixam, para forçar os primeiros a buscarem ajuda e os segundos a desistirem do negócio.
Diz o o coordenador anti-drogas da Governo do Estado, Luiz Alberto Chaves de Oliveira, conhecido como Dr. Laco (sem cedilha, por favor):
- A falta da droga e a dificuldade de fixação vão fazer com que as pessoas busquem o tratamento. Como é que você consegue levar o usuário a se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Quem busca ajuda não suporta mais aquela situação. Dor e o sofrimento fazem a pessoa pedir ajuda.
E a secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Alda Marco Antonio, promete até março – até março – que haverá 1.200 vagas para tratamento de dependentes.
O resultado deste genial terapêutica está retratado no portal R7: expulsos da Cracolândia original, proximo à Praça Julio Prestes, na capital paulista, viciados já montaram outra na Zona Sul Paulista e se espalham em pequenos núcleos próximos á região da Luz.
Ora, ninguém pode ser contra ações repressivas que impeçam a formação de “bairros do crack”, nem desconsiderar o direito dos cidadão que moram e trabalham nestas áreas. Nem compreender que, em alguns casos, tenha de ser contida com mais que um “por favor” a agressividade de pessoas fortemente drogadas e nas condições deploráveis que o crack produz.
Mas um profissional e um chefe de um serviço de saúde pública dizer que causar “dor e sofrimento” seja uma ação terapêutica, pelo amor de Deus! Seria voltar aos primórdios da ciência médica, ou dar razão aos inquisidores da Idade Média que pensavam ser a masmorra e a tortura instrumentos de conversão à fé.
Mas aqueles pobres sujeitos, degradados e abandonados, merecem, não é?Certamente o Dr. Laco (sem cedilha, por favor), acompanha a polícia às festas chiques dos Jardins para provocar “dor e sofrimento” para fazer os consumidores de drogas “pedirem ajuda” para se tratar, segundo o mesmo critério terapêutico.
Blog Tijolaço - Brizola Neto

por Amigos do Jekiti

As famílias que enfrentam o problema das drogas adoecem junto com o ente dependente, e os que vivem de perto o problema, sabem que a droga - principalmente o crack - afeta o caráter do indivíduo, tornando-o um delinqüente contumaz, por força da sua necessidade química. A delinquência começa com pequenos furtos e depois passa para os grandes delitos, obrigando o indivíduo a viver em função da sua dependência e das necessidades financeiras do traficante.
Para ampliar o quadro danoso, clínicas “especializadas” no tratamento ao dependente químico não estão preparadas ou interessadas no problema. Muitas delas, que recebem dinheiro do SUS, são instituições totais, isto é, espaços regidos por regras opressoras com o intuito de vigiar e punir, quando deveriam tratar o indivíduo para incluí-lo socialmente.
Como muitos internos estão sujeitos aos sintomas da ansiedade, muitos delitos são cometidos, forçando o corpo administrativo e médico adotar medidas punitivas, as quais vão desde pequenas advertências até a exclusão do interno da clínica e, consequentemente, do tratamento.
Outro fator relevante para agravar o quadro trágico daqueles que convivem com o mundo das drogas é a corrupção policial. Muitos policiais que trabalham diretamente com a repressão às drogas achacam traficantes e dependentes e muitos deles tornam-se usuários. Esta relação entre os estereótipos antagônicos cria uma sensação de impotência e nos leva a crer que o problema das drogas é de impossível solução, por que ela não só corrói as relações afetivas, como também o espírito das instituições.
Em relação a atuação da Prefeitura de São Paulo e do governo do Estado na cracolândia nos leva a crer que o objetivo da operação nada mais é que "limpar" a região daquelas centenas de pessoas para que prevaleça os interesses de uma elite especulativa. O pior é saber que nenhuma autoridade está interessada em aplicar uma política que permita tratar o dependente e prender o traficante, mas sim, favorecer àqueles que hoje combram suas gordas contribuições de campanhas.
O que é preciso não esquecer que a cidade é um espaço de todos - inclusive dos que frequentam a cracolândia -, embora reconheça que para eles banir aquelas pessoas de lá é mais fácil que aplicar políticas públicas.
Mas uma pergunta fica no ar: Onde vão colocar essas pessoas, já que não basta tirá-las de lá? 

3 comentários:

Henrique disse...

O problema das drogas é um problema global. Nenhum país descobriu ou aplicou ainda uma solução satisfatória. No Brasil, o problema se torna mais grave, pela proximidade com os países fornecedores (Peru, Colombia, Bolívia e Paraguai) que são tratados como se o problema não existisse, na maior cara-de-pau, pela ONU e outros organismos internacionais a serviço o neoliberalismo. Qualquer idiota sabe que o problema é um problema de saúde pública. Agora vem um idiota parlamentar de Brasília propor que o viciado seja multado em até R$ 1.000,00.
Pode? Por isto é que continuo a insistir sobre o analfabetismo político do nosso povo.

Bagrão disse...

Desde os anos 90, a cidade convive com a Cracolândia e os governos são incapazes de adotar políticas adequadas. Nem as delegacias especializadas, tipo Denarc (delegacia de narcóticos), nem a polícia militar identificaram, até hoje, a origem do crack que é ofertado. Agora, numa ação policialesca, busca-se o cerco ao usuário para se chegar ao vendedor da droga. Vendedor que, evidentemente, não é o operador da rede de abastecimento de crack para as cracolândias brasileiras.
Uma questão sócio-sanitária, de saúde pública, não pode mais ser enfrentada com soluções torturantes, como pretendem Alckmin-Kassab.
Pano Rápido. Aguarda-se que a ministra responsável pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, tome medidas adequadas para suspender as torturas em São Paulo e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, inicie apurações criminais. E espera-se que a nova procuradora junto ao Tribunal Penal Internacional, Fatou Bensouda, natural de Gâmbia (África Ocidental), levante o que acontece na Cracolândia e enquadre as irresponsabilidades e desumanidades.
Wálter Fanganiello Maierovitch

Post completo no blog Conversa Afiada.

Amigos do Jekiti disse...

Henrique, concordo com ambos.
Nosso problema também é a enorme fronteira.
Nenhuma política de saúde pública vai conseguir acabar com essa desgraça, muito menos a repressõ polcial. Tudo não passa de paliativos e interesse político- econômico.
Qum vive este problema sabe que não tem para quem e para onde correr... É uma luta sem fim.
abraços

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento