Por Luiz Henrique Ribeiro da Fonseca
É evidente que hoje em dia há uma terceirização da educação dos filhos. Os pais perderam a autoridade e sem saber como lidar com os limites transferem para a escola a responsabilidade de educá-los. Mas a própria escola, com seus professores e pedagogos, também perderam essa guerra e, em meio a toda a crise de autoridade, entra a Igreja e faz a sua parte, pregando a intolerância. A visibilidade que a TV e a internet dão aos movimentos das minorias, o programa Brasil sem Homofobia esbarra ainda nessa incapacidade que as pessoas têm de aceitar as diferenças. Foi assim em São Paulo, quando jovens de classe média alta espancaram um rapaz, na Avenida Paulista, e no Rio, onde houve uma tentativa de homicídio contra um rapaz de 19 anos, logo após a parada gay. Esse ódio deixa de ser latente quando os religiosos enfatizam o pecado do homossexualismo, quando as pessoas expõem seus preconceitos contra nordestinos. Outro aspecto está nas raízes históricas brasileiras, principalmente quando a minoria branca colonizadora se impôs, através da força, para garantir sua supremacia contra os nativos e os escravos.
Mas de tudo o que se vê de intolerância a mais comum é aquela que vem do seio da família. Pais e filhos entram em conflitos por conta da incapacidade que ambos têm em não conseguirem discernir autoridade de autoritarismo. Esse grande entrave cria no jovem uma visão distorcida, a qual, somatizadas com as pregações religiosas e ao contexto histórico da repressão às minorias, desencadeiam uma patologia social de ódio e medo contra aqueles que lhes são diferentes.
Com a falência da educação familiar e da escolar, a guarda dos filhos passou a ser da ordem jurídica, através da qual o jovem é punido pelos seus delitos, obrigando-o a se distanciar cada vez mais das regras sociais e, consequentemente, de sua educação convencional.
Se analisarmos as atrocidades cometidas recentes contra homossexuais, poderemos colocar na discussão a cultura de massa e a sua padronização (social) comportamental. Por conta desse padrão o jovem atua na sociedade de maneira não racional e reage contra tudo e todos que não seguem o padrão estabelecido, impedindo o jovem de ser o verdadeiro condutor da sua própria natureza humana.
Muitas vezes, os pais se surpreendem com a atitude violenta dos filhos e culpam-se por não saberem discernir entre os extremos da repressão e da liberdade. Essa situação mostra que não só o jovem segue esse padrão de conduta, pois os pais, também influenciados pela cultura de massa, adotam a mesma postura e o consenso formal imposto. Se pais e filhos fazem parte desse contexto massificado, a priori, torna-se difícil indicar caminhos para que ambos possam preencher suas lacunas. Como essas lacunas também não foram preenchidas pela escola e muito menos pela justiça acredito que a troca da ênfase do entretenimento pela informação, do trivial pelo profundo, poderia ser um bom caminho para que as minorias, através do seu processo histórico cultural, sejam inserindo junto àqueles que têm seus direitos civis, políticos e sociais respeitados.
A cidadania, como todos sabem, é a isonomia dos direitos - principalmente o social – e o apelo legal, como no caso da PEC 392/05, é apenas um instrumento garantidor de direitos àqueles que são alijados do processo de cidadania ampla, embora saibamos que não elimina o preconceito. Sinto que a intolerância está diretamente ligada à questão sócio-econômica, pois o preconceito está muito mais na distância que há entre ricos e pobres que nas questões de ordem sexual. Essa máxima entra em voga quando nos deparamos com artistas famosos, cuja opção sexual não é um fato desencadeador de violência, nem mesmo são atingidos pelas pregações de padre e pastores que são contra o homossexualismo.
A questão racial tem a mesma medida, isto é, negros ricos, bem sucedidos, não sofrem nenhum tipo de discriminação, embora considere que o preconceito esteja latente em muitos que ainda carregam o ranço da intolerância.
O preconceito, pelo viés religioso, está na facilidade com que muitos fiéis creditam sua postura social nas mãos de líderes cristãos, cuja doutrina fundamentalista incita o separatismo, impede uma integração social com aquele homossexual que não abdica de seus direitos à cidadania. Essa ética cristã, muitas vezes cega, gera a intolerância através do medo, muito mais pela pregação do púlpito, repleta de santimônias evangelistas, do que a própria natureza humana do fiel que a escuta. Esse fiel, ao sair da igreja, já “convencido” pela pregação, adquire uma vulnerabilidade, por conta da perda de seu sentido moral, e adquire outro estímulo que lhe causa uma excitação subjetiva, modificando sua estrutura psíquica. Assim, já doutrinado, principalmente pelo medo, reage com certa intolerância, sem que consiga compreender os enigmas de seus estímulos primários, devido à obscuridade da sua culpa.
Sobretudo, são os fatores religiosos que incitam essas diferenças e inibem a coexistência. Quando há cruzamento cultural, étnico, racial e econômico, isto é, quando não há sobreposição importante, inexiste o conflito, pois essa mitigação dilui essas diferenças, embora considere que é de forma mascarada.
A meu ver, para por fim a determinados conflitos e preconceitos, a comunidade religiosa deveria quebrar as barreiras que a separam das outras que gravitam à sua volta e estas deixarem de julgar, atacar seus dogmas, valores e padrões comportamentais. Se não for possível a convivência que pelo menos as atitudes sejam mais flexíveis, civilizadas, para que essa violência descabida não seja o caminho ideal para o fortalecimento de grupos de extrema direita que pregam, preferencialmente, uma sociedade separatista, cheia de intolerância e ódio às minorias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário