"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quinta-feira, 19 de agosto de 2010

DAVI, O CARLITOS O BLESK BLOM

Por Luiz Henrique Ribeiro da Fonseca

Habituei-me a vê-lo guardando a Praça Coronel Macedo. Davi me encantava com seu andar chapliniano, sorriso matreiro e expressões que mais pareciam saudações ao Deus Baco. A gurizada, que se aglomerava na praça para esperar pelo “vasquinho”, o cumprimentava só para provocá-lo e dele receber alguma saudação “risotônica” de uma língua pagã qualquer: Haine is fainin is ronie is fowni! – retribuía ele.
Quando o “vasquinho” chegava para espantar a meninada, porque naqueles tempos menores de idade não podiam andar na rua após as vinte e duas horas, ele sentava, acendia o inseparável cachimbo, e se deliciava com os “coques” que dávamos em Edmundo, “pé-de-galinha” e Ceci “cagado”. Para ele éramos “carlitos” debochando da sisuda autoridade constituída, “garrinchas” driblando os “joãos” de cintura dura, saltimbancos, trapezistas, equilibristas, “simplícios” e “catifundas” na Praça da Alegria.
Cansados de tantos dribles e "coques" a gente se despedia dele com um “tchau, charme”, só para ouvirmos outra pérola daviniana, e ele nos atendia com outra expressão estrambólica: Chorles taime dereves mowlin.
Depois que nos distanciávamos ele, ébrio no breu da praça, melancolicamente desengonçado, cumpria seu ritual humilde, revisitando nos passos lentos as ruelas arenosas da Coronel Macedo. Depois que se recolhia dentro da retreta silenciosa ele nos guardava atrás das retinas, desejando que o anjo dos sonhos antecipasse o pão e a cachaça; assim ele suportaria a velha manhã, as migalhas da tarde até que a noite chegasse, quando tudo se repetiria – os “coques”, os dribles, as jogadas – e pela mesma alegria ele se reinventasse.

Um comentário:

Edson Negromonte disse...

Ótimo, ótimo, mais um resgate! Essas pequenas figuras importantes, personalidades antoninenses, merecem uma antologia. Parabéns, Luiz!

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento