"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

LADO B - HOMENAGEM À RÁDIO TAM TAM - TU ÉS O MDC DA MINHA VIDA - RAUL SEIXAS

por Edson Araujo



Projeto TAMTAM: 21 anos de experiência em Arte e Loucura ou a estética da linguagem como arte de expressar as diferenças.
A língua que enrola a fala, que distrai o verbo, que ilude o verso, reproduz a linguagem dos que pensam.
O risco- traço desgastado, grafismos de um grito quase Goya, quase capricho, que "a louca" de vestido de bolinhas – pop – falava, mostrando a caligrafia de um tempo torto. A dramaturgia desagradável quase teatro pobre – cruel nos abscessos - para a qual alguns diriam: "Bobagens!"; outros, "Castigo...", e, outros, "Paixão!". Puros fragmentos, em cena seca – diálogos do silêncio – numa arquitetura dura.
A dramaturgia grega associou em nós a tragédia, o inevitável, o destino inglório do homem.
A linguagem do ato insubstituível, desse mundo excluído, criado pelo homem para outro que se faz ninguém, nos turva a face e desfoca o olhar. O mundo que se cria com o outro produz sentido ético/estético por acaso e pelo acaso. A socialização do prazer, provocada por escândalos de experienciações em encontros comuns com o outro. Esse compartilhar de emoções e paixões provoca rupturas e cria a língua (quase silêncio), a vanguarda, o alfabeto dos excluídos, uma real produção do romance, do poema e da poética – um novo signo cultural com vozes diversas de dizeres tantos, de um olhar "além do olho".
Não se trata de um elogio à piedade e nem a utilidade da arte – não se trata de uma arte-show – mas sim da estética de uma ética de aquisição de saberes: a linguagem, voz de todo corpo, numa nova produção de valores – ressonância do assombro... Talvez um gesto de amor (homem/humanidade).
Romântico demais? Você acha?
Falas do que? Dos hospícios ou dos castelos? Da favela ou dos cortiços? Das tribos? Gangs?... O que é isso? Algum movimento filosófico? Pós-modernidade? Ou será a exclusão da tese?
... Então, a "mulher de vestido de bolinhas" se vestiu de branco, atravessou o palco numa mala de ferro também branca – quase Dalí, mas é Pop-art... Êxodus... Onde um virou dois... dói, é macumba – baba –Dadá. Está feliz.
"Precisamos, mais uma vez, dar ouvidos aos loucos e aos profetas. Precisamos recuperar nossa cabeça."
O que se deseja é o direito de poder pensar artisticamente... Poder expressar a Arte sem, mais uma vez, vê-la associada a um sofrimento diagnosticado. Pois é mesmo um sofrimento a razão desse existir, desse bem-estar, dessa felicidade dessa alegria.
O que se deseja, então, é poder expressar, sem pressões, com conteúdos próprios, as nossas diferenças.
"Mas, enquanto isso não se tornar possível, teremos que ser radicais, não por opção estética, mas por desconfiança." (Galícia, 1972)

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O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento