"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A ODISSÉIA DA PATRULHA TOURO

UM CASAMENTO EM APIAÍ

Na madrugada seguinte acamparam entre rochas, ao pé da Serra do Apiaí, com o intuito de chegarem à cidade no dia seguinte. De manhã Canário e Manduca foram à procura de lenha e gravetos, enquanto Lydio foi buscar água no Rio Apiaí-mirim para o café e depois seguirem a caminhada até a cidade Apiaí. Beto foi poupado do trabalho por conta das assaduras nas coxas e ficou descansando, enquanto Oribe preparava o material para seguirem em frente.
Por volta das 07hrs30min partiram, sob a manhã fresca, na direção do Portal da Mata Atlântica. Sem descanso chegaram as 11hs30min em Apiaí. A cidade estava em festa, pois era o dia de São Benedito, padroeiro da cidade. Andaram em meio a multidão e barracas, atraídos pelas ofertas das bugigangas. Alguns queriam parar e conferir a festa, mas chefe Beto os ordenou que seguissem em frente, na direção da Prefeitura Municipal.
Ao chegarem no Passo Municipal, foram informados que o prefeito não poderia recebê-los, devido aos compromissos dos festejos. Os escoteiros, decepcionados, com o Livro Diário nas mãos, resolveram não insistir e partiram, sem saber se seguiam em frente ou se paravam para descansar. Chefe Beto deu a ordem para que acampassem longe da aglomeração, próximo a um hospital em construção. As assaduras eram o que mais lhes incomodavam, muito mais que a decepção de não serem recebidos pelo prefeito.
Do acampamento era perfeitamente possível contemplar a natureza da cidade, cercada de morros com declives e planaltos. A terra roxa propiciava o cultivo do tomate, milho arroz e feijão, bem como a fruticultura, através do cultivo do pêssego, caqui e laranja.
À tarde foram fazer compra num comércio distante um quilômetro do centro e depois, às 17 horas, foram acompanhar a procissão de São Benedito.
Pernoitaram em Apiaí e logo cedo seguiram, margeando a rodovia SP-250. O movimento de carros e caminhões era intenso, mas eles seguiam, confiantes, ora assobiando ora cantando dobrados militares. Ao meio dia pararam para o almoço e cuidaram das assaduras com pomadas anestésicas. Em seguida, retomaram a caminhada, ainda sobre intenso movimento da rodovia, com o intuito de chegarem em algum lugarejo para pernoitarem.
A noite já caía e eles, menos aflitos, avistaram um lugarejo com apenas nove casas. Um senhor alto e com um cassetete nas mãos aproximou-se, querendo saber os que cinco desejavam. Imediatamente Beto informou-o sobre a missão e o homem, que era uma espécie de inspetor de quarteirão, ofereceu-lhes uma casa abandonada para pernoitarem.
Depois de acomodados, o senhor lhes ofereceu uma janta e ainda os convidou para assistirem o casamento da filha. Impressionados, todos imediatamente foram tomar um banho e vestirem seus trajes especiais de escoteiros. Por volta das 20 horas, os cincos se juntaram à família dos noivos e juntos foram para a associação de moradores, que ficava em frente a uma pequenina praça. Na porta, eles se surpreenderam com a chegada do noivo, vestido de terno de listra, chapéu de cowboy, montado num belo cavalo negro. Em seguida, surgiu a noiva, numa charrete enfeitada de flores campestres, puxada por dois cavalos brancos e, em seguida uma outra charrete com as daminhas de honra. Minutos depois, chegaram o Juiz de Paz e o Escrivão, ambos de Apiaí.
A cerimônia foi rápida e os noivos, seguidos pelos familiares e convidados, se despediram, sob choros das mães e votos de felicidades dos parentes e amigos. Manduca virou-se para o Inspetor e perguntou se haveria a tradição de jogar arroz nos noivos. O pai da noiva sorriu e imediatamente sacou de um revolver, dando vários disparos para o alto, seguido pelos demais...

7 comentários:

Edson de Araújo disse...

Tinha um bar, ao lado da casa do
Ranulfo, vizinho do bar do seu Waldemar (Oldemar)quase em frente da estação ferroviária.
O "artista principal" era o Toninho "come merda".
Morava ao pé do morro do Bom Brinquedo.
Esse cabra ainda está por aí Luiz?

Edson Negromonte disse...

Grande, Luiz! A reconstituição da odisseia dos escoteiros antoninenses está cada vez melhor. Vamos em frente! Rataplão, o arrebol...

Edson de Araújo disse...

Fui escoteiro em Antonina.
Morro de vergonha de ter sido usado prá recolher "ouro para o bem do Brasil"!
Puta sacanagem!
Meu vizinho, seu Adão do Nascimento,algemado na nossa frente! Depois Chiquinho padeiro, Cabinho, um promotor que não lembro o nome...
Inté hoje, com carinho, xingo seu Maneco he he he

Amigos do Jekiti disse...

Edson,
Também fui escoteiro e sei o quanto fomos doutrinados pela civismo militaresco, principalmente na época da Exponina, em 1970.
A história dos cinco escoteiros é incrível e mostra o quanto eles foram usados, depois esquecidos, e hoje são uma espécie de fantasmas que nos atormentam.
Quanto a Toninho come merda, não sei dele, mas vou procurar saber.
O único que morava no pé do morro do Bom Brinquedo, que ainda está por lá, é o popular Uba.
O caso narrado por você é incrível, pois prenderam o maior "capitalista" de Antonina como um fácinora comunista.

Edson de Araújo disse...

he he he
Quando assessoramos alguns companheiros da executiva do Comitê Central do PCB (Régis Frati,Giocondo Dias) um deles me mandou prá Curitiba, e ao meu amigo Takao Amano coube Porto Alegre.
Pois intão!
Fui procurar o dirigente principal do Paraná: Expedito ( um escultor).
Quando falei que era de Antonina os olhos dele brilharam!
E me perguntou: você sabia que um dos cabras mais brilhantes do comunismo do Paraná foi seu conterrâneo?
Quem?
Adão Nascimento ( pai de Luiz Carlos saci)!

Fortunato disse...

Edson, faz uma semana que o Expedito faleceu, a filha dele é amiga da minha esposa.

Natinho

Edson de Araújo disse...

Pois é Natinho!
Um grande amigo, meu compadre, chamado Marcelo Gato, uma vez me disse que não saberia contar a quantidade de amizades rompidas por causa dos conflitos ideológicos, políticos.
Fomos para lados opostos.
Expedido estava à minha direita, acho.
Mas, fez muito pela classe operária.
Eu, com 58 anos (hoje) ,era da juventude he he he he
Tive o dissabor de enterrar ( no bom sentido) grandes professores como Lindolfo Silva,Malina, Oswaldo Pacheco, Giocondo, etc
Esses caboclos bem que merecem uma bela homenagem do companheiro Lula.
Lutaram muito!
Se acertaram, não sei!
Mas tentaram!
E adonde anda Fernando Peixoto, um dos maiores especialista em Bertold Brechet do país?
Tá vivo?
Tá Morto?
Nunca mais tive notícias desse camarada!
Abração Nato.
E Dona Antonia?
Está bem?

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento