"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



domingo, 26 de dezembro de 2010

RELÓGIO DE SOL DO MERCADO

O amigo Edinho me escreveu querendo informações sobre os "restos mortais" do relógio de sol do mercado. Ele me informa que lembra quando o velho Félix Carbajal o construiu, bem como das peças metálicas que foram forjadas pelo Cúnico. Conta ainda que Félix e Germano passavam horas tomando conhaque no velho Caiçara, proseando em alemão sobre o filósofo Scheler. Por fim me informou que os muitos relógios de sol contruídos pelo velho astrônomo estão espalhados por várias cidades do mundo, enquanto o nosso (do mercado) foi derrubado a marretadas.
Quem souber alguma história de Félix Carbajal, por favor nos escreva. Teremos o maior prazer em postá-la no blog.

Encontrei no site do IELA - Instituto de Estudos Latino-Americanos, da Universidade de Santa Catarina, o seguinte texto sobre Felix Carbajal:

Por Elaine Tavares - jornalista no OLA/UFSC - 04/08/2005.

Quase ninguém percebeu, mas neste dia três de agosto o tempo parou. Foi um átimo de segundo, talvez por isso não sentido. Todos os sons sumiram, a paisagem congelou. Os passarinhos quedaram sobre as árvores, silentes. O céu perdeu a cor. Nenhum gosto veio à boca. As canções ficaram prisioneiras no espaço. É que o senhor do tempo encantou. Félix Peyrallo Carbajal, o sábio uruguaio, o plantador de relógios de sol, o filósofo, o cientista, o amigo querido, o homem apaixonado e apaixonante, se foi. Não mais ouviremos sua voz de trovão, seu riso de passarinho, sua ironia fina. Voou no início de uma linda manhã de agosto, iluminada pelo sol de quase primavera. Um dia perfeito.
Félix tinha 100 anos e todos os sonhos do mundo. Vivia num asilo em Blumenau porque, anarquista, nunca quis ter nada de seu, ao não ser duas mudas de roupa, sempre branquinhas. Não tinha diplomas, nem documentos, nem mulher, nem filhos. Nada. A não ser seu corpo e sua sabedoria. Quem cruzou seu caminho sabe. A sabedoria, espalhou, a quem quer que tivesse vontade de ouvi-lo. Nunca esqueceremos suas lições dadas no dia a dia, na conversa no bar, na rua, no cinema... O corpo, bem usou, em viagens e amores. Era um sedutor.
Foi embora o Félix nesta manhã de agosto em que o tempo parou, em reverência. Foi embora como viveu. Sereno e feliz. Uma dor de estômago, o hospital, uma cirurgia e o encantamento. Coisa rápida, sem sofrer. Poucos dias antes se despediu de sua amiga fiel, Roseméri Laurindo, entregando a ela uns passarinhos feitos à moda de origami. Era seu jeito de dizer adeus a quem esteve ao seu lado nesses últimos tempos, aprendiz e companheira. Para o resto do mundo, e principalmente para a América Latina, deixou seus relógios - mais de 180 por todo o continente - a marcar indefinidamente o tempo. Para mim deixou a certeza de que a vida é mesmo um presente, uma bênção, e que temos de vivê-la como quem bebe uma taça do mais fino vinho.
O corpinho magro de Félix vai se encontrar com a terra na cidade de Lages, onde vive Elza, sua "namorada", seu amor. Mas o espírito gigante deste homem está aí, integrado à grande energia cósmica, encantado, mas presente. Acho até que ele é aquele passarinho que tanto canta na minha janela. Morto que nunca morre, como dizem os sandinistas...adorável ladrão de corações, almas e mentes.
Félix estaria nas Jornadas Bolivarianas, evento promovido pelo Observatório Latino-Americano (OLA/UFSC), no dia 16 de agosto, falando de Simón Bolívar, a quem considerava genial. Seu corpo não estará, mas manteremos a programação. Falaremos sobre ele, contaremos sua história e celebraremos a vida desse sábio, um dos últimos, exatamente como ele gostava. Com riso, com alegria, com amor. Félix estará, sempre estará, porque quem o tocou ficou marcado, indelevelmente... Félix, o passarinho...Félix, o homem... Félix, o sábio... Félix, o mestre...
E assim é... tão logo integrou-se ao cosmos, tudo voltou a andar...

3 comentários:

Edson Negromonte disse...

Então, o relógio do mercado foi destruído a marretadas? Senti muita falta dele quando retornei a Antonina recentemente e, agora, estou a lembrar da gente, ainda meninos, abelhudos, a observar as medições do velho Carbajal.

Cláudio Roberto disse...

Olha, Tem um facebook do D. Felix Peyrallo Carbajal. Se alguém tiver fotos do relógio que foi destruido a marretadas e algum ouro material, Felix e nós agradecemos se postarem no face Felix Carbajal.

Cláudio Roberto disse...

Alguém sabe informar que em que ano foi construído o relógio derrubado?
Desde já, obrigado.

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento