"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



terça-feira, 15 de março de 2011

ANTONINA EM BRANCO E PRETO

Tenho por hábito caminhar à noite pelas ruas de Antonina. Caminho nessa hora porque é mais fácil ouvir os clamores da minha infância e reconstruir minhas imagens de quando brincava nas ruas e jogava bola nos muitos campinhos que existiam outrora. A solidão e o silêncio me ajudam a sentir o que fui e posso garantir que soube ser feliz. Não sei o que sou agora, depois desse abismo das águas, depois da morte de Pedro, depois de ver a tristeza nos olhos daquela gente. Só sei que meu olhar é triste, que minha voz é fraca e que meu coração é ermo, pois a lição ensinada é prova inexorável que viver é acumular perdas.
Mas eu não aprendo, porque não vejo as coisas da forma que elas são. A maneira pela qual olho a cidade de Antonina é sustentada na relação do que vejo e vi, do que vivo e vivi, pois a concepção que me chega como imagem são imanentes, isto é, são condicionadas ao meu estado de alma, longe da razão. Voltado sobre mim e sobre o que sinto, cada canto, cada rua, é um transportar permeada de lembranças, de recordação de como eu era, de como vivi, em choque com o que eu vivo e vejo. Chego a imaginar que tudo não passa de uma ilusão, uma aparência e que toda realidade esconde-se atrás do tangível e que se chama passado.
Embora considere que tudo isso é cego e sem razão, incondicionalmente sou levado a ser assim, sem poder explicar-me, pois nem tudo é razão, consciência, e sim apenas um sentir. Muito menos quero uma investigação objetiva sobre os valores da vida e nem filosoficamente argüir o quanto possa estar certo ou errado, interpretar psiquicamente o que Freud explica em minha estranheza e obscuridade. Só quero neste momento as minhas convulsões, ser apenas triste e cantar minhas perdas. Quero acumular mais essas e no meu livre abandono, no desarrimo dos sonhos ser agora o dono de mim.
Deixo meu orgulho de lado e os traços do limite da razão para na frente do espelho contar minhas lágrimas e me beijar. Mas nessa dor há conforto, pois embora nas sombras, sinto Antonina aquecida, pois sei que no meio do nada o tempo fará seus milagres.
Depois da dor acomodada verei a nova Antonina, a geografia mudada e uma nova arquitetura. Quem sabe verei um povo mais triste, como eu, ou quem sabe a autoestima mudada. Embora saiba que tudo precisa ser continuado, reconstituído, quero, no contraponto exato de tudo que me assola, ficar aqui, com a minha sórdida frigidez de dor inútil e esperar, que em breve, possa andar sob o silêncio e o mercúrio, olhando a cidade, como se ela fosse um retrato antigo pregado na parede.

6 comentários:

Edson Negromonte disse...

Como bem disseram Paulo Leminski e Itamar Assumpção: Um homem com uma dor / É muito mais elegante / Caminhando assim de lado / Como se chegando atrasado / Andasse mais adiante. Abraço!

TOKADARTE disse...

Não esquente Luiz, Antonina precisava de uma sacudida assim, para poder acordar e despertar para uma nova realidade, só assim é que a politica vai se voltar para nossa cidade, esta é a oportunidade que faltava para Antonina gritar e ser ouvida.
Vamos tirar proveito desta desgraça, em vez de ficar-mos tristes e chorar, vamos lutar e reveindicar melhorias e soluções permanentes, queremos estradas de concreto e não anti pó.

Anônimo disse...

Tá na hora dessa gente bronzeada mostrar o seu valor...as excessões ficam por conta daquele pessoal que mora no Palácio Ipiranga, verifiquei a maioria das imagens da nossa tragédia e não vi nenhum dos vereadores de Antonina com os pés sujos de barro. Também o que eu espero; eles todos são de acuçar.

Assinado: O SIRI DO PORTINHO.

Em 2012 apareçaaaaaaaaaammmmmmmmmm

Amigos do Jekiti disse...

Tem razão, Siri.
Não vi ninguém da Câmara botar a mão e nem pé na lama.
Maurício,
Espero que possamos aprender com tudo isso.
abraços

Anônimo disse...

Cadê os políticos?
Cadê as "autoridades"?
Vereadores e o prefeito?
Cadê o padreco?

BUTUTUCA faz tanta propaganda do seu vereador, aonde ele se escondeu?

Perguntas sem resposta.

Anônimo disse...

Nessa não entra o prefeito. Ele esta fazendo a parte dele e muito bem. Imagino os anteriores numa situação dessa "com a articulação política"( só mudavam de partido) que eles tinham e tinham medo de voar.

Assinado: O SIRI DO PORTINHO

Moradores do Palácio Ipiranga, em 2012,
APAREÇAAAAAMMMMMMMM aqui no Portinho para pedir os nossos votos!!!!!

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento