"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



sábado, 26 de março de 2011

A DOR E A OPORTUNIDADE

Parte 3

O AMOR POR ANTONINA

O que me levou a escrever este texto foi o meu cansaço de tanto ler e ouvir essa falácia de amor por Antonina. Sei que muitos vão discordar e até me colocar na parede por conta do que está no epígrafe do blog. Quero deixar bem claro que é uma licença poética, uma homenagem ao meu amigo Edson. O que sinto por minha cidade é fruto de uma série de circunstâncias que precede a infância, porque nela nasci e vivi parte de minha vida. O pior é que usam essa calamidade como uma forma de exteriorizar sentimentos vagos, propagados por essa invenção canônica de amor ao próximo. Essas juras não passam de um artifício, de uma vaidade, um engodo para receber voto, admiração e apoio, uma promoção pessoal, como se cada um participasse de uma licitação para ganhar uma concorrência. Pergunte a qualquer vereador, ao prefeito, aos secretários, aos líderes de associação, se eles estão onde estão por amor a Antonina? Duvideodó ! E mais, pergunte a si próprio se o amor por Antonina inclui a antropofagia aos homossexuais e à "turma do litro"?
Cada um faz o que faz não por amor a Antonina e sim porque ama a si próprio e o que a cidade e seu povo pode lhes dar. Essa relação é fácil de concluir, pois se analisarmos o que se propaga pelas esquinas, no jekiti, nos quatro cantos das cidades é uma proliferação de desafetos pessoais e políticos, os quais provam que esse amor não passa de uma condicionante.
Quero separar dessa discussão a questão do povo solidário e também separá-la desse outro amor, que muitos chamam de amor ao próximo. Embora respeite qualquer valor cristão isso não me impede de opinar e dizer que tudo isso não é um monopólio do cristianismo. Somos solidários não por conta de escrituras, pois conheço muita gente que não tem religião, que são não-cristãos e ateus que estão preocupados em ajudar os que sofreram com a calamidade (ponto).
Essa inconsciência coletiva de amor ao próximo para mim chama-se atitude e esta eu vi através das muitas fotos que expressaram a calamidade. Nelas estavam dezenas de trabalhadores e voluntários lutando noite e dia para restabelecer a água, para tirar pessoas das zonas de riscos e em levar mantimentos aos necessitados, etc. Justifico essa minha indagação pela máxima de que não preciso amar ninguém para ajudá-la, caso o fizesse estaria impondo condições, regras e tudo isso não passa de um valor deletério.
Portanto, espero que me compreendam, mas se assim não quiserem, paciência, pois não vou aqui perder meu tempo em escrever sobre as coisas que sinto e penso para melhorar minha autoestima. Torço, sinceramente, que esse valor contraditório de amor por Antonina seja repensado e que toda a dor dessa calamidade seja o primeiro passo para uma nova era, caso não sirva, que pelo menos relaxem e gozem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse texto acima, apertou o escroto e o fez soltar "bufa" pela boca.

por Célio Heitor Guimarães

Neste mundo em que ora sobressaem a patifaria, a corrupção, a canalhice, a violência, o egoísmo, a arrogância, a inveja, a ingratidão, os interesses pessoais e a submissão aos poderosos, pouco espaço ainda resta para o amor, a amizade, a solidariedade e a fraternidade. Será que alguém ainda sorri de alegria, abraça com carinho um desconhecido, sonha com o futuro?

Sinceramente, não sei. Torço para que sim.

Ei-la: O sujeito quase não viu a senhora, com o carro parado no acostamento. Chovia forte e já era noite. Mas percebeu que ela precisava de ajuda. Estacionou e se aproximou. O carro da senhora era novinho em folha.

Ela se preocupou. Ninguém tinha parado para ajudá-la durante uma hora. Ele iria aprontar alguma, com certeza. Estavam sós, o local era meio deserto e quase totalmente escuro. Além disso, ele parecia pobre e faminto.

Ele percebeu que ela estava com medo. Então, disse-lhe:

– Estou aqui para ajudá-la, madame. Não se assuste. Por que não espera dentro do carro, que está mais quentinho? Meu nome é Renato.

Tudo o que ela tinha era um pneu furado, mas para uma senhora e de certa idade, já era ruim o bastante.

Renato abaixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Sujou-se um pouco e ainda feriu uma as mãos. Quando já apertava os parafusos da roda, a senhora baixou o vidro da janela e começou a conversar com ele.

Contou que era de São Paulo, que só estava de passagem e que não sabia como lhe agradecer pela preciosa ajuda.

Renato apenas sorriu enquanto se levantava. Ela perguntou quanto lhe devia. Qualquer quantia seria pouco, pensou. E imaginou tudo o que de terrível poderia ter-lhe acontecido, se ele não tivesse parado e a ajudado.

Mas Renato não pensava em dinheiro. Aquilo fora apenas um trabalho.

Gostava de ajudar quem precisasse, e Deus já havia lhe dado o necessário. Era o modo de viver dele e nunca lhe ocorreu agir diferente.

— Não é nada. Mas se a senhora realmente quiser pagar, da próxima vez que encontrar alguém que precise, dê-lhe ajuda. E… lembre-se de mim.

Renato despediu-se dela, esperou que partisse e também se foi. Tinha sido um dia frio e deprimente, mas ele se sentia bem.

Alguns quilômetros adiante, a senhora parou num pequeno restaurante. Queria comer alguma coisa. O restaurante era muito simples, e tudo ali era estranho para ela.

A garçonete veio atendê-la, trazendo uma toalha limpa para que ela pudesse secar os cabelos. Tinha nos lábios um sorriso simpático, que nem os pés doloridos de um dia inteiro de trabalho foram capazes de apagar.

A senhora notou que a jovem estava grávida, de uns oito meses, mas que, ainda assim, continuava na atividade, com alegria. E ficou curiosa para saber como quem tinha tão pouco era capaz de tratar tão bem a um estranho. Então,
lembrou-se de Renato.

Terminada a refeição, quando a moça foi ao caixa buscar o troco para uma nota de R$ 100, a senhora se retirou.

A garçonete ainda procurava saber onde ela se metera quando notou algo escrito no guardanapo, sob o qual havia mais quatro notas de R$ 100.

Com lágrimas nos olhos, leu: “Você não me deve nada. Alguém me ajudou hoje, da mesma forma que eu estou lhe ajudando. Se você quiser me retribuir, não deixe esse circulo de amor acabar: ajude alguém”.

Ainda havia mesas para limpar, açucareiros para encher, pessoas para servir, e a garçonete voltou ao trabalho. Horas depois, quando chegou em casa e, cansada, deitou na cama, seu marido já estava dormindo. Lembrou-se, então,
do dinheiro que ganhara e ficou a imaginar como aquela senhora soubera o quanto ela e o marido precisavam dele, de como tudo estava difícil, sobretudo agora que o bebê estava para nascer.

Achou que fora abençoada, sorriu e agradeceu a Deus. Antes de dormir, deu um beijo macio no marido que dormia a seu lado e sussurrou-lhe:

— Tudo ficará bem. Eu te amo, Renato!

Blog do Zé Beto

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento