"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira." Edson Negromonte.
sábado, 26 de março de 2011
A TURMA DO LITRO
Vi no blog do meu amigo Maurício "galinha" (TOKADARTE) esta foto reveladora. Enquanto nós, "pessoas de bem", aguçamos nossos preconceitos contra essas pessoas, elas nos mostram, com seus sorrisos singelos e abraços afetuosos, o quanto temos que aprender sobre certos valores.
(06.06.07) O sujeito na cadeira, a irmã ao lado. O homem tem mais cascas de pelagra nas pernas que árvore de praça no meio do outono. A consulta segue.
- O senhor deveria falar com ele para diminuir a bebida, doutor!
Vinte pacientes todos os dias nos últimos 10 anos me ensinaram que a melhor terapia inicial para estes casos é o que chamo de Choque de Honestidade.
- De modo algum. - Como? - De modo algum vou falar para ele diminuir a bebida - respondo, para espanto da mulher e repentino entusiasmo do homem. - Primeiro, tenho certeza de que vários outros médicos fizeram esta mesma recomendação: que ele deveria parar de beber. - É, já disseram isso várias vezes, mas ele... - ...Não parou. Então, insistir significa me tornar mais um em uma longa fila de conselheiros inúteis. Em segundo lugar, eu não deveria falar mal da bebida alcoólica. Tampouco do cigarro. Nenhum colega de faculdade, nenhum amigo médico, ninguém – frisei - encaminha mais pacientes para o meu consultório que a dobradinha Álcool e Cigarro. - Hein? - Quanto mais seu irmão beber, mais dinheiro eu ganho. Desejo longa vida a ele e ao vício que nos sustenta. Que ambos durem várias décadas para desenvolver hipertensão, infarto, derrame, desnutrição, gastrite e pancreatite, para então morrer de cirrose ou câncer no esôfago após alguns anos de sofrimento. Se ele parar de beber agora, estará dando um excelente passo em direção à recuperação da saúde, mas será um péssimo investimento do ponto de vista do meu bolso...
Quando bem conduzida, este tipo de conversa "ao inverso" resulta no efeito necessário, que é fazer o indivíduo enxergar com todas as luzes os tons sinistros com que está pintando seu futuro.
O alcoolismo é um dos maiores (e mais subestimados) problemas de saúde pública no Brasil. Este entorpecente, bastante acessível e com altíssimo potencial de vício, deveria ser tratado com mais sobriedade, não com propagandas festivas na TV. O álcool está envolvido em mais de 40% dos acidentes automobilísticos com mortes e em uma proporção similar de crimes sexuais, para dizer o mínimo.
Quanto mais a embriaguez se torna habitual e começa a interferir com seu ritmo de vida, mais perto você está de cruzar a linha que separa o uso recreacional do álcool do alcoolismo propriamente dito.
As manifestações do abuso alcoólico incluem comportamento agressivo, redução da coordenação motora e da clareza nas decisões, desorientação, perda da memória e desidratação. O consumo crônico de álcool pode causar lesões graves em nervos, fígado, pâncreas e coração, além de levar à hipertensão arterial, derrame cerebral, demência e aumento do risco para câncer na boca, laringe, esôfago, estômago, intestino grosso e mama.
Um dos principais sintomas do alcoolismo, e o que o torna este distúrbio tão difícil de ser tratado, é a Negação. O dependente não admite para si ou para os outros a existência de qualquer problema com o álcool, e a família tende a colaborar fazendo coro e vista grossa para o problema. Infelizmente, empurrar para debaixo do tapete não limpa a sujeira, apenas a acumula.
Havendo disposição voluntária por parte do alcoólatra, vitaminas e outros remédios podem ser empregados sob supervisão médica para controlar os sintomas da abstinência. Algumas pessoas podem necessitar internação hospitalar durante o período mais crítico de abandono da bebida. Vencida a etapa de desintoxicação, a participação em grupos de apoio como os Alcoólicos Anônimos é recomendável para manter o vício sob controle no longo prazo.
O diagnóstico de alcoolismo não significa falta de vergonha ou fraqueza de caráter, mas uma doença que deve ser abordada sem pudor e com todas as letras. O tratamento pode ser difícil, mas a cura não é impossível - basta fazer a coisa mais incrível e poderosa de todas: Querer.
4 comentários:
Ai Luiz, na foto esta Pakapaka, um dos sobreviventes do deslisamento da Laranjeiras.
Pois é, Maurício.
Todos, de um modo ou de outro, são sobreviventes
abração
Se essa turma estivesse à frente da administração do município, estaríamos melhor representado.
Álcool e Alcoolismo: MAIS POLITICAMENTE INCORRETO, IMPOSSÍVEL
© Dr. Alessandro Loiola
(06.06.07) O sujeito na cadeira, a irmã ao lado. O homem tem mais cascas de pelagra nas pernas que árvore de praça no meio do outono. A consulta segue.
- O senhor deveria falar com ele para diminuir a bebida, doutor!
Vinte pacientes todos os dias nos últimos 10 anos me ensinaram que a melhor terapia inicial para estes casos é o que chamo de Choque de Honestidade.
- De modo algum.
- Como?
- De modo algum vou falar para ele diminuir a bebida - respondo, para espanto da mulher e repentino entusiasmo do homem.
- Primeiro, tenho certeza de que vários outros médicos fizeram esta mesma recomendação: que ele deveria parar de beber.
- É, já disseram isso várias vezes, mas ele...
- ...Não parou. Então, insistir significa me tornar mais um em uma longa fila de conselheiros inúteis. Em segundo lugar, eu não deveria falar mal da bebida alcoólica. Tampouco do cigarro. Nenhum colega de faculdade, nenhum amigo médico, ninguém – frisei - encaminha mais pacientes para o meu consultório que a dobradinha Álcool e Cigarro.
- Hein?
- Quanto mais seu irmão beber, mais dinheiro eu ganho. Desejo longa vida a ele e ao vício que nos sustenta. Que ambos durem várias décadas para desenvolver hipertensão, infarto, derrame, desnutrição, gastrite e pancreatite, para então morrer de cirrose ou câncer no esôfago após alguns anos de sofrimento. Se ele parar de beber agora, estará dando um excelente passo em direção à recuperação da saúde, mas será um péssimo investimento do ponto de vista do meu bolso...
Quando bem conduzida, este tipo de conversa "ao inverso" resulta no efeito necessário, que é fazer o indivíduo enxergar com todas as luzes os tons sinistros com que está pintando seu futuro.
O alcoolismo é um dos maiores (e mais subestimados) problemas de saúde pública no Brasil. Este entorpecente, bastante acessível e com altíssimo potencial de vício, deveria ser tratado com mais sobriedade, não com propagandas festivas na TV. O álcool está envolvido em mais de 40% dos acidentes automobilísticos com mortes e em uma proporção similar de crimes sexuais, para dizer o mínimo.
Quanto mais a embriaguez se torna habitual e começa a interferir com seu ritmo de vida, mais perto você está de cruzar a linha que separa o uso recreacional do álcool do alcoolismo propriamente dito.
As manifestações do abuso alcoólico incluem comportamento agressivo, redução da coordenação motora e da clareza nas decisões, desorientação, perda da memória e desidratação. O consumo crônico de álcool pode causar lesões graves em nervos, fígado, pâncreas e coração, além de levar à hipertensão arterial, derrame cerebral, demência e aumento do risco para câncer na boca, laringe, esôfago, estômago, intestino grosso e mama.
Um dos principais sintomas do alcoolismo, e o que o torna este distúrbio tão difícil de ser tratado, é a Negação. O dependente não admite para si ou para os outros a existência de qualquer problema com o álcool, e a família tende a colaborar fazendo coro e vista grossa para o problema. Infelizmente, empurrar para debaixo do tapete não limpa a sujeira, apenas a acumula.
Havendo disposição voluntária por parte do alcoólatra, vitaminas e outros remédios podem ser empregados sob supervisão médica para controlar os sintomas da abstinência. Algumas pessoas podem necessitar internação hospitalar durante o período mais crítico de abandono da bebida. Vencida a etapa de desintoxicação, a participação em grupos de apoio como os Alcoólicos Anônimos é recomendável para manter o vício sob controle no longo prazo.
O diagnóstico de alcoolismo não significa falta de vergonha ou fraqueza de caráter, mas uma doença que deve ser abordada sem pudor e com todas as letras. O tratamento pode ser difícil, mas a cura não é impossível - basta fazer a coisa mais incrível e poderosa de todas: Querer.
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