"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



sábado, 2 de abril de 2011

CARTAS DE MAMÃE

Meu tesouro,
Eis me aqui limpando os sapatos de couro italiano do seu pai por conta da lama antoninense. Não pense que ele saiu às ruas para ajudar desabrigados e muito menos para tirar pessoas da zona de risco. Seu pai, como você bem sabe, odeia o´Beto Richa, e ao vê-lo em Antonina não se conteve e lançou toda a sua coleção de sapatos de cromo alemão e couro italiano no governador. Que vergonha, meu deus, preciso misturar gardenal na comida do seu pai. 
Sabe filhinho, jamais imaginei que nós, ricos, limpinhos e cheirosos, passaríamos por esse infortúnio, pois até então acreditava que calamidade desse tipo só acontecia com pobre. Para você sentir como foi nossa tragédia aqui em casa, conto-lhe que nossa marina se encheu de lama, obrigando seu pai levar nossos iates para outra marina, a Barão de Teffé, que vive abandonada.
Mas há coisas deveras engraçadas em toda essa tragédia. Uma delas é a reclamação dos pobres de que perderam tudo... Aí eu pergunto: Como podem ter perdido tudo se sempre reclamaram que nunca tiveram nada? Vá entender essa gente.
Para aliviar tudo isso nós, damas quatrocentonas guarapirocabanas, legítimas descendentes de Valle Porto, já programamos um chá beneficente com o intuito de arrecadar roupas usadas para dar aos flagelados. Lili Monteiro, antes de ser levada pelo altíssimo, me incumbiu de guardar sua coleção de outono-inverno para que você a usasse no carnaval, mas vou escondê-la antes que você queira dar aos pobres. Inclusive os líderes religiosos já propuseram passar o dízimo de 10% para 20% para ajudar na arrecadação de donativos, já que são isentos de impostos.
Ah! Ia me esquecendo. Quem vem jantar aqui em casa é o excelentíssimo Deputado Federal Jair Bolsonaro, homem da mais alta estirpe e defensor dos verdadeiros valores da família. Ele vem aqui palestrar em nosso teatro, com o intuito de ensinar as jovens capelistas como preservar suas purezas intocadas até o casamento... Só temo a audiência!
Depois ele vai à Escola Superior de Guerra Antoninense falar aos comandantes e ensiná-los novas estratégias militares com o intuito de retomar o Rocio das mãos dos comunistas parananguaras. Pelo que soube de sua estratégia, ele proporá que a gloriosa marinha guarapirocabana avance suas esquadras de batera e canoas a remo pela baía antoninense e quando aportarem na terra de Gabriel de Lara deverá como missão principal, destruir a ponte do Valadares, isolando assim o inimigo.
Quanto aos inimigos da terra do Nhanha ele deve propor que a invasão seja por ar, através da FAG, Força Aérea Guarapirocabana, e para isso a esquadrilha de mosquitos, muriçocas e porvinhas devem fazer vôos noturnos e rasantes com o objetivo de espalhar o pânico na população gay inimiga para que todos morram da picadura do “AIDS-egípicios” .
Para concluir, digo-lhe que nem tudo que vem do querido Bolsonaro eu concordo, principalmente quando ele diz que gay deve apanhar, pois sou mãe e sei bem o quanto isso me dói.
Fico por aqui, meu tesouro, deixando para você todo meu amor e carinho e, para finalizar, vou pedir ao alcaide para limpar logo a cidade para que voce não suje seu delicado pezinho na lama.
Mamãe te ama.

Assinado: Lady Mary Elizabeth Taylor de Orleans e Bragança, a condessa de Antonina.

5 comentários:

Edson de Araújo disse...

Luiz, se Roberto Manchão estivesse em Antonina, seria fã da sua mãe!
Ele, com seu elegantíssimo lenço de seda escondendo aquele urupê no pescoço he he

Amigos do Jekiti disse...

Um dia vi roberto manchão na rui barbosa, em curitiba. Ele estava rodeado por um povo que queria conselho espiritual. Na praça ele não era nosso amado roberto e sim o babalorixa Pai Baiano!

Edson de Araújo disse...

he he he
Desfilava em Antonina com suas roupas elegantes.
Sempre usava um encharpe prá esconder aquela "coisa" no pescoço.
Era o Humphrey Bogart da nossa cidade!
Não se escondia!
Tinha dignidade!
"Eu sou assim. Quem não gostar, que se foda"!

Anônimo disse...

isso é a cara de Rosi

Amigos do Jekiti disse...

Isso realmente é a cara de mamãe!
A história de mamãe é interessante e vou contá-la em resumo.
Ela veio ainda criança do Limoeiro no Iate de meu avô. Ao chegar no rego do mercado, dezenas de criados a esperavam para levar seu enorme enxoval. Por exigência de vovó resolveu fazer a Escola Normal, mas não em Antonina, e sim na Souborne, em Paris, e de lá veio lecionar em Antonina, mas odiou, é óbvio. Mexeu os pauzinhos e retornou a Paris, onde foi Diretora Pedagógica do Centro Francês de Letras. Aposentou-se depois de pouco mais de dois anos de trabalho, pois vovô era amigo do presidente do IPE e sua gorda aposentadoria permitiu-lhe construir o império que hoje seu filhinho desfruta.
Minha mamãezinha é assim, como vc a vê: arrogante, nariz em pé, antipática e soberba. Mas ela tem um valor que muitos não tem: mamãe não se esconde.

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento