"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quinta-feira, 16 de junho de 2011

A ODISSÉIA DA PATRULHA TOURO

ANO NOVO EM ITAPETININGA


Partiram de Capão de Bonito rumo ao nordeste. O sol de Verão reluzia sobre o campanário da Igreja Nossa Senhora do Rosário e eles caminhavam, recordando a boa hospitalidade do povo e das autoridades locais. Às 09:30 horas cruzaram as fronteiras do município, cortando a grande campina, e pararam no entrocamento de duas estradas, onde chefe Beto reuniu a tropa para que o ajudasse a escolher o melhor caminho. Depois de minutos debruçados sobre o mapa, decidiram seguir pela estrada mais longa, passando por Gramadinho, Itapetininga, Sorocaba e São Roque, desviando dos pequenos lugarejos, onde os recursos eram escassos.
Decidida a trilha caminharam por 40 quilômetro até chegarem em Gramadinho, ao anoitecer. A cidade estava deserta e na praça principal, em frente à Igreja Matriz, Milton Oribe sentou-se em um dos bancos e reclamou aos demais que não se sentia bem. Manduca levou sua mão à testa do companheiro e disse aos demais que Milton estava febril. Manduca e Canário correram até um pequeno repuxo e trouxeram água para Milton, enquanto Beto olhava ao redor, à busca de uma lugar proprício para acamparem.
Milton tomou sua água para aliviar o sintoma e em seguida, com o comando do chefe Beto, seguiu com os demais, na direção de um terreno cercado de arame farpado. Enquanto Milton se restabelecia sobre a mochila, os demais montavam o acampamento ao lado de um poço de água potável. Muito cansados resolveram repousar. Lydio voluntariou-se para a primeira guarda, mas chefe Beto ordenou que todos fossem dormir, pois deveriam seguir muito cedo na direção de Itapetininga .
Logo cedo partiram de Gramadinho, sem conhecer nenhum costume local. A estrada estreita era coberta por eucaliptos, aliviando em seus corpos o intenso calor. Milton Oribe, depois do sono reparador, sentia-se melhor, mas a cabeça doia um pouco.
Depois de caminharem alguns quilômetros, avistaram uma pequena pastagem, onde havia algumas vacas e, ao longe, uma pequena casa de madeira. Beto pediu aos demais que conferissem a quantidade de água em seus cantis e ordenou que descansassem sob a sombra de uma árvore para que Milton pudesse se restabelecer. Lydio e Manduca resolveram ir à busca de água para completarem seus cantis. Milton, aparentando coragem e firmeza, disse a Beto que gostaria de seguir em frente, mas o chefe, sensível a situação do subordinado argumentou que o Sol estava quente demais e que o descanso era necessário. Lydio e Manduca regressaram com os cantis cheios, mas Beto preferiu dar alguns minutos para que ambos descansassem.
Dez minutos foi o suficiente e seguiram em frente. À medida que caminhavam, sentiam-se mais forte, mais preparados para completarem a missão. Habituaram-se com a rotina dura e densa, sem se queixarem, mas a preocupação ainda era Milton, que aparentava sentir os dias difíceis. 
À tardinha avistaram as primeiras casas. Beto, sempre afrente, alertou que poderiam estar em Itapetininga e Milton, sentindo-se melhor, apurou o passo, passando por Mnaduca e Canário. Lydio aproximou-se de Beto para ver melhor as casas e disse ao chefe que só podia ser Itapetininga. Alguns minutos de caminhada foi o suficiente para que eles tivessem a certeza que chegaram em seu destino. A estrada descia, serpenteando a mata densa, e eles, ansiosos por um banho e comida, apuraram o passo.
A temperatura estava amena e a cidade se iluminava aos poucos. Nas ruas as pessoas paravam nas calçadas, interrogativas, querendo saber o que aqueles meninos com os olhos austeros faziam na cidade. Alguns faziam perguntas e eles, solícitos, respondiam sobre a missão, tentando fazer com que a população entendesse a odisséia. Beto olhou para o final da rua e avistou um quartel do exército e quis saber de um transeunte qual era o nome do Batalhão: - É o Quinto Batalhão – disse o morador - . E quem comanda é o tenente-coronel Orlando Werney Campelo.
Em dez minutos chegaram ao portão do quartel e lá se identificaram. Imediatamente os cinco foram levados à sala do comandante. Beto entrou primeiro e se apresentou ao tenente-coronel, que em seguida pediu que os demais entrassem.
O comando Orlando disse aos meninos que quando adolescente foi escoteiro, elogiou-os e em seguida ofereceu as instalações para eles pernoitarem.
Conversaram por alguns minutos e chefe Beto fez com que o comandante assinasse o livro de visita. Foram levados ao refeitório e lá jantaram uma comida simples, porém bem temperada. A curiosidade dos militares era grande e Beto, sentindo-se orgulhoso, contava em detalhes sua missão, enfatizando os problemas econômicos ocasionados pelo embargo marítimo.
Por volta das oito horas da noite se instalaram em um dos alojamentos e Manduca, olhando para o relógio, lembrou a todos que à meia noite chegaria o novo ano. Os demais deram pouca importância ao que Manduca falara e resolveram descansar em suas camas de campanha.
Próximo da meia noite eles foram acordados por rojões de fogos de artifícios. Da janela eles olhavam o céu repleto de filigranas coloridas e a tropa no pátio, como se fosse uma data comemorativa. No mastro a bandeira nacional tremulava e uma ordem unidade foi grita, obrigando a tropa a se organizar no meio do pátio. Os soldados eram em número de dez, dando a entender que os demais estavam de folga. O Hino Nacional deu a introdução no alto-falante e os cinco meninos, em posição de sentido, acompanhavam a tropa. Austeros e eretos eles cantavam o hino, segurando as lágrimas das lembranças, das saudades e dos brinquedos jamais esquecidos.

2 comentários:

Anônimo disse...

FINALMENTE!! Pensei que vc ia abandonar os meninos no meio da viagem.

Jeff Picanço disse...

legal sua releitura..tambm estava sntindo falta da nossa "epopeia dos bagrinhos"...abraços

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento