"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O fascismo social e o silêncio conivente da esquerda

Blog Viomundo
Brasil: inimigo meu
por Túlio Muniz

Em Agosto de 2011, o Observatório da Imprensa publicou artigo de minha autoria, Por novos discursos midiáticos, no qual abordei o conceito de “fascismo social”, de Boaventura Santos, e adiantei o que chamo de Dispositivo Pós-Colonial, ou DPC.
Relembrando: o “fascismo social” é “um tipo de regime no qual predomina a lógica dos mercados financeiros em detrimento de grandes setores das populações, gradativamente distanciados e excluídos do campo de direitos sociais adquiridos nas últimas décadas. O risco, alerta Santos, é o da ingovernabilidade”.
Presente no Forum Social de Porto Alegre quando da expulsão dos moradores do Pinheirinho, Santos, ainda que não referisse diretamente ao seu próprio conceito, demonstrou como o “fascismo social” é presente na sociedade brasileira, e reafirmou a necessidade de se contrapor a ações como aquela, que, com o aval do Estado, beneficiam setores dominantes e opressores em detrimento do bem público e social.
O caso do Pinheirinho é grave e preocupante, e alinha-se a outros acontecimentos recentes de violência estatal. Entre outros, estão a carga da polícia militar contra estudantes em São Paulo (USP) e contra professores cearenses, ambos em 2011. Vale lembrar que, já neste ano, a polícia militar foi autorizada pelos governos do Espirítio Santo, do Piauí e de Pernambuco a carregar contra estudantes, em protestos contra reajustes do transporte coletivo.
Aqui há perigo. SP está nas mãos dos debilitados tucanos, do PSDB que há quase duas décadas se aliou à direita financista, mas CE, PI, PE e ES são estados governador pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), o que demonstra que as cessões ao “fascismo social” não são exclusivos da direita, extravasaram também para a centro-esquerda, e às vezes com o silêncio conivente de partidos de esquerda.
Nos meio de comunicação convencionais, as abordagens críticas ao “fascimo social”, permanecem restritas aos espaços já consolidados (revista Carta Capital, Rede Record), com raras e bravas exceções, como a do jornalista Ricardo Boechat em seus comentários na Rádio Bandeirantes.
E eis que em meio ao caos ressurge com força o que outrora chamei de DPC, discursos e estratégias que os governos exercem sobre suas próprias populações, “impondo normas que visam tanto a justificar ocupações e dominação de territórios estrangeiros, quanto à imposição de determinações internas. Tais normas são geradas por governantes que necessitam coagir as populações nacionais e são sustentadas e difundidas pela mídia”.
A Rede Globo (não por acaso) permanece sendo o campo privilegiado de propagação do DPC. Se na TV aberta se esboça um certo pudor e contenção, estes se desnudam nos canais fechados da Globo, o que ficou patente em entrevistas recentes conduzidas por Monica Waldvogel.
Para além do bem e do mal, o DPC resulta no que se pretende, ou seja, coagir populações com discurso institucional legalista e higienista, conforme diz a Folha de S.Paulo de domingo, 29 de Janeiro: “Polícia na cracolândia é aprovada por 82% em SP”.
O que fazer nesse campo confuso, onde tanto o “fascismo social” quanto o DPC são gerados à esquerda e à direita? Talvez, estar atentos para o que muitos vem chamando de período pós-institucionais, a eclosão de movimentos não necessariamente estruturados ou vinculados à organizações governamentais e não-governamentais (nesse sentido sugiro leitura de análise de [Emir] Sader, aqui).
Entretanto, permanece relevante o papel de pensadores que se inserem na mídia para tratar de casos que passam ao largo da “neutralidade” jornalística, e exemplo disso é o artigo “Razão, desrazão”, do sociólogo e filósofo Daniel Lins no jornal O POVO de 29 de Janeiro, acerca da violência estatal no Pinheirinho: “A exclusão da loucura emerge no domínio das instituições mediadas pelo enclausuramento psiquiátrico ou social. Exilado em sua diferença intratável, o destino do louco ou do pobre é o confinamento moral, social”.
No mesmo nível de importância no combate ao DPC, estão os sites e blogues no estilo do Observatório, e tantos outros (viomundo, conversaafiada, escrevinhador, luiznassif, cartamaior, etc). Estes, mais do que a mídia convencional, primam pela proximidade entre jornalismo e pensamento. Portanto, parece urgente e preciso, cada vez mais, reforçar e manter a aliança entre opinião e reflexão, esta arma poderosa que causa horror aos jornalões, às TVs e ao poder institucionalizado.
Pinheirinho, polícia contra estudantes e professores, magistrados nababos, prédios desabando, mídia sem regulação. O Brasil, definitivamente, não precisa de inimigos externos.

*Túlio Muniz é jornalista, historiador e doutor em Sociologia pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.
PS do Viomundo: Não há combate possível ao fascismo social sem democratização da mídia; mídia concentrada, ascensão social despolitizada — calcada no consumismo — e governo por pesquisas de opinião são ingredientes essenciais para fomentar o “discurso da ordem”, que existe para bloquear a expansão dos direitos sociais.

17 comentários:

Henrique disse...

JUIZA ELOGIA AÇÃO POLICIAL NO PINHEIRINHO.




http://esquerdopata.blogspot.com/2012/01/juiza-marcia-loureiro-envergonha-raca.html

Anônimo disse...

ao que parece, bastaria meia duzia de 'pensadores' que o Brasil iria muito bem.

Pinheirinho é reflexo e 'bode expiatório' da impunidade do movimento dos 'sem terra' que invadiam, saqueavam, destruíam, com as bênçãos das autoridades instituidas, pois nada disso era crime: qualquer barbaridade que fizessem estava valendo, em nome de pseudo justiça social.
Taí. A opinião pública ficou 'com as medidas cheias'
Deixem de bobagens, o mundo é de quem tem dinheiro.
A justiça social levou a Europa à falência.
Quem financiou a brincadeira quer o dinheiro de volta..... Essa brincadeira vai levar todo mundo pro buraco.

Amigos do Jekiti disse...

Meu caro,
Vc culpa os sem terras e sem tetos pelo fracasso do capitalismo?
Realmente seu racionarismo é espantoso. Fique sabendo que o capitalismo entrou em crise justamente pelo seu parasitismo, pois o terceiro mundo já não é mais seu hospedeiro.
Em 2008 nos EUA foi a crise da habitação e o sistema hipotecário que não aguentou a demanda. Na Europa o erro foi querer objetivar o que sempre foi subjetivo, isto é, unificaram o sistema monetário em detrimento de toda as diferenças que haviam entre os países.
Agora, se vc olhar para o mundo, verá que o Brasil seguiu na contramão da história e por isso está galgando degraus e mais degraus no ranking da economia mundial, pois seu capitalismo não é parasitário e sim sustentável, isto é, diminui as diferenças sociais e colocou milhões no mercado consumirdor.
Daqui a 5 anos, o Brasil terá mais de 2 milhões de medicos, engenheiros e advogados, por conta do Prouni, se não fosse as políticas sociais esse pessoal estaria recebendo do Estado algum beneficio assistencial ou na cadeia trazendo mais custos ao governo.

Anônimo disse...

depende de que tipo de capitalismo V. se refere.
A Europa levou ao paroxismo as 'políticas sociais' e.... taí o resultado.

E por falar em 'ir pra falência', não se esqueça do retumbante fracasso de TODO o bloco socialista que, de um modo ou de outro, adotou o sistema capitalista.
A China mantém um pé 'lá' e outro 'cá'. É comunista quando se trata de reprimir direitos sociais do povo. É capitalista selvagem quando opera com o dinheiro, mantendo o povo com salários de miséria. Aqui são os empresários que ganham; LÁ SÃO OS DIRIGENTES DO PARTIDÃO, DONOS E REGENTES DE UMA RIQUEZA INCALCULÁVEL.
Cuba só está encontrando solução para seu subdesenvolvimento por meio de políticas que se aproximam do capitalismo.....

Jekiti, em vez de V. se preocupar com lugares em que nunca pisou, porque é que V. não comenta o descalabo dos direitos sociais de nossa bela e querida terrinha??
Tem uma porçaão de coitados que perderam suas casas no último desastre, e que vivem de aluguel. E.... e..... a prefeitura.... o que é que fez por eles, depois de tanta reportagem, escarcéu e fotografias, inclusiva com a presença de uma 'determinada senadora' que hoje pertence aos píncaros da corte brasiliense?????

Anônimo disse...

A Constituição Federal já tem um sistema de distribuição de rendas, quando reparte o produto dos impostos federais, de modo que a União Federal tem que, necessariamente, repassar uma parte significativa dos impostos para os estados e municípios.(IPI, I.R., IOF) - Do mesmo modo, os estados são obrigados a repassar uma parte do ICMS para os municipios. O 'POBREMA' é o que acontece com essa dinheirama quando chega no 'bolso' - doS município..... é, ruim, hein????
O GRANDE 'POBREMA' ESTÁ AQUI, NO NOSSO CHÃO!!!!
Vai, Jekiti, descasca esse abacaxi, qui V., tanto quanto o Bacucu, o Reginaldo e o Eduardo Bó, vai levar relho nas costas.... Vai, vai mecher com quem toma conta do dinheiro do povo.......

Anônimo disse...

'... eles (bacucu, reginaldo, e.bó) tiveram coragem.... e por isso merecem respeito. Tá faltando V. 'sair do ócio... (ócio o que mesmo?) e provar que não tem medo de rosnado e cara feia.....

Anônimo disse...

As políticas sociais da europa tinham por pressuposto que os paises do terceiro mundo seriam eternos 'fornecedores de riquezas' para os paises do primeiro mundo....
Tanto é que tem economista estúpido dizendo que a Europa não só não pode diminuir o consumo de riquezas, como precisa aumentar, assim se resolveria a crise..... Mas... comsumir mais ainda, de que geito??????????

Mas não deixa de ser uma equação esdrúxula:- "... os escravos precisam de seu senhor, pois melhor do que grande miséria é a miséria pouca que ora existe...."

Não tenham grandes esperanças, e nisso dou razão ao JEKITI, que a midia está manipulando essa conversa de pleno emprego por aqui:- se a europa for pro brejo, nós também vamos. (já se esqueceram da crise de 2008, é???) um monte de empresas quase foram pro buraco.... e por crise bem menor...

Nesse contexto ameaçador, não vai sobrar nada, para politicas sociais...

Amigos do Jekiti disse...

Meu caros,
Não vou aqui ser um oportunista e usar as pessoas que ficaram sem suas casas como trampolim eleitoral, pois não sou hipócrita.
Sei dos problemas deles e sou solidário, embora reconheça que a burocracia estatal é um entrave para que suas casas saiam mais rapidamente.
Uma calamidade como essa requer seriedade e respeito, pois nenhuma administração de uma cidade sem recursos conseguiria resolver esses problemas de maneira rápida, tendo em vista a falta de recurso da nossa Antonina.
Se Bó, Reginaldo e seja lá quem for criticam a atuação da administração em relação a morosidade das casas, é assunto deles. Tenho minhas convicções e não vou mudá-las só pq A ou B querem.
Quanto a outro item, digo que o Estado assistencial existe pq o capitalismo fracassou, isto é explorou a mão de obra e privilegiou o consumo. Os pobres, como não tinham acesso ao consumo - devido o desemprego - dependeram do Estado assistencial para sobreviverem, mas com a economia em crise (capitalismo) cortes nas políticas sociais foram feitas e assim aumentou a miséria.
O Brasil de Lula e agora Dilma, entendeu que é preciso privilegiar a mão de obra, através da educação (Prouni), bem como, incentivar bolsas no exterior para o aprimoramento dos nossos profissionais.
Com mais capacitação aumenta-se o emprego e a renda e estas sustentam a economia interna, amenizando os efeitos da crise lá de fora.
É isso!

JUBA disse...

Não adianta, pobre já nasce amaldiçoado. Quando não são as chuvas e outros desastres naturais são facínoras disfarçados de autoridades.
Resumo da ópera:

Pinheirinho é o nome pelo qual era conhecida uma comunidade popular com 6.000 habitantes instalada há pelo oito anos em um terreno em São José dos Campos, que é alvo de uma disputa judicial envolvendo uma empresa falida do megaespeculador Naji Nahas.
No domingo retrasado (22/01), a Polícia Militar paulista despejou os moradores cumprindo uma determinação da Justiça de São Paulo – apesar de na ocasião existir uma outra decisão liminar que suspendia a reintegração de posse. Todas as casas que existiam no local foram demolidas.
A ação foi criticada por autoridades e organizações de direitos humanos pelo uso excessivo da força contra a comunidade. Na semana passada, a urbanista Raquel Rolnik, relatora das Nações Unidas para o direito à Habitação, denunciou as violações aos direitos humanos no Pinheirinho. Após a desocupação, cententas de pessoas ainda não tem onde ficar e continuam em abrigos provisórios oferecidos pela prefeitura local.
Dá para acreditar?
Viva o Judiciário, viva o tucanato.

PAULO R. CEQUINEL disse...

Inacreditável: há quem queira atacar o governo Canduca mas, não tendo culhões, fica a exigir que terceiros o façam.
O nome técnico disso, se me permitem, é gozar com o pau dos outros.
Tenham vergonha na cara, anônimos!

Amigos do Jekiti disse...

Cequinel,
Uns querem atingir a administração para ver se conseguem, na próxima, entrar pela porta dos fundos. Outros querem ser padres, mas não passam de coroinhas coxos kafkianos.

Anônimo disse...

Uma coisa é o discurso. Outra é a ação. A única vez que vimos este blog defender os direitos sociais de um 'sem teto' foi no ano passado, quando tomou as dores de um certo 'dono de restaurante' que não tem nada nem de pobre e muito menos de desvalido.

PAULO R. CEQUINEL disse...

Luiz, foi você que eliminou um comentário anônimo que falava da minha cegueira?

Amigos do Jekiti disse...

foi sim, Paulo.
Achei o comentário ofensivo.

PAULO R. CEQUINEL disse...

Obrigado, meu amigo. Creio que você entendeu de quem o calhorda anônimo estava a falar.
Melhor assim, poupa-me uma daquelas respostas.

Amigos do Jekiti disse...

entendi, sim.
Mas não se preocupe, meu amigo, ele morre de inveja daqueles que têm dignidade e coragem de ser.

Anônimo disse...

Em São Paulo, há oito prédios invadidos. Hoje foi a vez de mais um ser desocupado pela polícia.

Acabou a farra da impunidade às leis, só porque se está sob o amparo de alguma pobreza, as vezes só pseudo..... era o que acontecia nos acapamentos rurais. Boa parte já não era sem terra, coisa nenhuma, pois tinha casa, carro e profissão, mas... quem sabe leva-se mais uma boquinha nessa de se dizer sem terra e estar filiado ao partido .....

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento