"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



terça-feira, 5 de novembro de 2013

À ESPERA QUE A BOMBA EXPLODA

Sou do tempo em que os campinhos de futebol, em Antonina, eram abundantes. A gente dobrava uma esquina e lá estava um bando de meninos correndo atrás da bola, a imitar os craques daquele tempo. Ainda havia outras brincadeiras de rua, como: “polícia-ladrão”, pular corda, roubar goiaba do vizinho e com as meninas brincar de “pedrinha-do-céu”.
Naquele tempo tudo era mais simples e vivíamos protegidos pela ilusão dos morros e marés que contornavam Antonina. Não tínhamos medo de nada, exceto das histórias de assombração que nos obrigava a dormir com as luzes acesas para que as coisas sobrenaturais não fustigassem nossos sonhos. Nos sábados à tarde fazíamos festinhas americanas, para as quais as meninas levavam doces e salgados e meninos refrigerantes e sucos. Ao som da vitrola ou radiola dançávamos o iê-iê-iê, sob a vigilância dos pais das meninas.  Aos domingos assistíamos à matinê no Cine Ópera, onde o primeiro toque na mão da menina desregulava o batimento cardíaco. Tínhamos em nosso favor a comida feita no fogão à lenha, as frutas e verduras sem agrotóxicos e pouca variedade de doces e refrigerantes que nos satisfazia. Também em nosso favor tínhamos as casas de portas abertas e muros baixos, a rua sossegada e sem pressa, o céu constelado de pipas e um frescor de pura lágrima no adeus da primeira namora.
Não quero com isso cultivar os valores e o modo de vida da minha infância, mas sim procurar algum indício do por que algumas pessoas da minha geração olham para trás com suas lanternas acesas como um meio de justificar o motivo pelo qual nos vestimos no presente com o luto da nostalgia.
Não me interpretem mal, mas eu não tenho a intenção de decifrar o mundo, nem a minha pequena aldeia. Apenas quero propor uma avaliação entre o que éramos e o que nos tornamos como civilização, e se possível aliviar o impacto causado pelos distúrbios em nossa integridade social.
É óbvio que, gradativamente, a vida foi se tornando complexa e as referências se perderam no declínio civilizatório da globalização. O mundo ficou sem barreiras e as ilusões entre os morros e marés deram lugar ao delírio dos tempos modernos, que nos impôs um limite para vivermos entre as aparências do passado e a dura realidade do presente.  
Antes de qualquer coisa é preciso relativizar alguns conceitos, porque hoje em dia vivemos numa sociedade plural, de padrão, aparentemente, subjetivo, muito por conta dos tempos de outrora em que tudo era lei e nada se discutia.
O dinamismo com que a informação chega e vai dificulta que tenhamos uma visão mais objetiva da vida, e isso, a meu ver, impede que assimilemos certos valores essenciais para a nossa consistência ética, moral e psíquica. Esses fatores, embora efêmeros, nos impedem de enxergar essa pluralidade, bem como se utilizar de seus fatores como um meio de desfrutar melhor a vida.
Mas é no jovem que essa efemeridade o torna mais vulnerável. Nos tempos de hoje, devido ao excesso de informações, somadas às questões psíquicas e a falta de meios para se expressarmos culturalmente, acarretam no jovem uma falta de referência, cuja conseqüência é o aumento da delinquência e o uso de drogas de drogas lícitas e ilícitas. Como parâmetro para esses fatores está o evidente conflito de gerações entre pais e filhos, a crise de autoridade que leva aluno e professor ao desentendimento, a falta de perspectivas e, consequentemente, o descrédito nas instituições públicas.
Não quero afirmar e nem colocar nas mãos dos pais, professores e poder público, isoladamente, a responsabilidade pelo dilema dos jovens. O que proponho é uma postura agregadora desses agentes para que os elementos ameaçadores sejam superados por políticas de inclusão social e cultural.
Talvez um dos impedimentos para a implantação de políticas para o jovem seja este instinto de preservação e postura militaresca, muito enraizada em nossa cultura, por conta do aumento da delinquência juvenil em nossa cidade. Essa nossa visão maniqueísta é um dos fatores prejudiciais para que nos organizemos socialmente e exijamos das autoridades políticas públicas para a área esportiva, cultural e de trabalho e emprego.
Mas há outra questão que precisa ser atacada e esta requer uma ação mais concreta do poder público e dos agentes envolvidos. Reporto-me aos jovens que estão em estágio avançado de dependência química, cuja situação dificilmente o CAPS tem condições de atender. Não que eu desmereça o trabalho dos centros psicossociais, mas, a meu ver, sua política não inibe aquele usuário em estágio avançado de retornar às drogas, pela simples razão que o adicto continua mantendo relações sociais com o traficante e outros dependentes.
Para esses casos a questão é mais profunda e merece um empenho maior por parte do poder executivo e ministério público. A ideia é que planos sejam traçados com o intuito de retirar das ruas os usuários com alto risco social e interná-los, compulsoriamente, em clínicas especializadas, logicamente dentro de uma política de saúde traçada pelos agentes especializados. Para que isso ocorra é preciso que se monte uma equipe de abordagem que atuará junto aos usuários e, dependendo da situação de grupo, acionar o CAPS e propor a internação, em conjunto com a anuência dos pais ou responsáveis.
Por fim, é preciso que, paralelamente, seja encarada a questão do tráfico de drogas. A incumbência, como não poderia de ser, é da segurança pública, mas esta deve atuar em conjunto com o ministério público e com o apoio de programas destinados a combater as organizações criminosas. Uma boa medida é a inserção do município no programa “Crack, é possível vencer”, do Ministério da Justiça, que atendem não só à saúde pública, como dá suporte técnico ao combate do tráfego, através de unidades móveis devidamente aparelhadas para esse fim.
Como coloquei antes a busca de soluções para combater a violência e o uso de drogas, não estão nas medidas punitivas e sim nas políticas preventivas de inclusão e ressocialização, porque a delinquência juvenil está mais relacionada à situação social do jovem e sua família que problemas de essência. Não entender esses fatores e não investir em políticas que permitam ao jovem se manifestar culturalmente, ter práticas esportivas, bem como não lhe dar perspectivas de trabalho e emprego, é olhar, resignado, para o pavio aceso de uma bomba e esperar que ela exploda.

4 comentários:

Anônimo disse...

pois é...eu li uma materia em que nos paises de 1 mundo a taxa de suicidios e muito maior que nos paises mais pobres,ate o silvio santos uma vez tocou no assunto no prog. dele. um exemplo é a russia suiça e japão,la no japão a media subiu de 30 mil para 35 mil... suicidios por ano so perde p a russia e outro pais que nao me recordo agora,no brasil a media fica entre 2 a 3 mil por ano segundo registros oficiais...a elke maravilha em entrevista disse que nos brasileiros temos muito que apreender q p q somos um pais muito jovem pouco mais de 500 anos,temos que apreender com a india por exemplo... aquele sim e um pais com muitos problemas...

Amigos do Jekiti disse...

Se entendi, temos 500 anos pela frente para darmos um tiro na cabeça.

Anônimo disse...

È por estas e outras que até o cachorro lá em casa, quando a TV está ligada na Globo, deita encosta o focinho no tapete e cobre as orelhas com as patas.

Anônimo disse...

Calote do Richa:

http://blogdotarso.com/

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento