"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A ODISSÉIA DA PATRULHA TOURO


OS PRIMEIROS PASSOS - 16 de Dezembro de 1941.

Às treze horas a Tropa Valle Porto chegou à caserna. Os cinco escoteiros fizeram uma checagem do material e cada um foi separando o que lhe cabia levar. No cinturão havia cantil, faca, escoteira, machadinha, lanterna de pilha e a querosene do tipo manobreiro. Cada um levava o bastão de madeira que serviria como arma contra animais e para sustentar as barracas. Além desses materiais, Milton Horibe levava parte da lona da barraca, Manduca carregava a caixa de enfermagem, Canário uma corda grossa de aproximadamente 18 metros e Lydio seu diário pessoal e a bandeira Nacional. Cada escoteiro tinha um embornal de suprimentos e um para a higiene pessoal, dois uniformes completos: bibico, camisa caqui de manga curta, calça comprida na cor de azul-marinho, botinas pretas e ainda alpargatas de corda para as longas caminhadas. Depois da checagem do material, Maneco Picanço deu ao chefe Beto a importância de 40.000,00 réis para custear a viagem e cada um levou de seu próprio bolso de 10.000,00 a 20.000,00 réis para as emergências.
Às quinze e trinta horas a Tropa Valle Porto deixou a caserna, desfilou pelas principais ruas de Antonina e parou em frente à Prefeitura Municipal, onde a tropa foi recepcionada pelo Prefeito Helio Trevisan. Depois do discurso de louvor aos cinco heróis, o prefeito Hélio os orientou que a mensagem escrita deveria ser entregue ao Presidente Vargas e entregou ao chefe Beto o Livro Diário Oficial para que fossem registrados todos os fatos da jornada. Falaram também diversas autoridades: Tenente da Marinha, Aníbal Luiz Oliveira, Tenente do Exercito João Pinheiro Gonçalves, o Meritíssimo Juiz da Comarca, Dr. Artur Cruz Galvão do Rio Apa, o Promotor Publico Dr. Nahor Ribeiro de Macedo, o Dr. Alfredo Jacob, representante do jornal Gazeta do Povo, o Sr. João da Cruz Leite proprietário do Jornal de Antonina e outras autoridades portuárias.
Depois da cerimônia, o desfile seguiu pela Rua XV de Novembro, passando pela Rua Mestre Adriano (hoje Heitor Soares Gomes), Rua Barão de Tefé (hoje Carlos Gomes da Costa) e Conselheiro Alves de Araújo, até a Avenida Uruguai, onde fizeram uma parada defronte ao Portão Rodoviário. Ali as primeiras lágrimas rolaram, quando as Bandeirantes entoaram o hino “Companheiros Marchemos Unidos”. Manduca não resistiu e chorou, mas continuou com o peito inflado, o corpo ereto como se fosse um experiente comandante de campanha. Canário olhava para o pai, lembrando das surras que levou por fugir de casa para estudar a trilha com o chefe Maneco e os demais companheiros. Chefe Beto, sem perder a imponência, acompanhava o hino, pensando na sua responsabilidade, pois sabia que o sucesso do intento estaria em suas mãos, desde que soubesse conciliar a severidade de um líder, com a sensibilidade de um pai. Lydio e Milton cantavam e olhavam para a multidão, lembrando dos comentários que ouviram sobre a loucura da aventura e das apostas de que não conseguiriam completar o raid.
Depois do hino despediram-se dos seus pais, parentes, amigos e autoridades, e seguiram pela Avenida Thiago Peixoto, acompanhados pelos demais escoteiros e pelo chefe Maneco Picanço. Em frente ao Matadouro Municipal, fizeram a última despedida e Beto recebeu das mãos do chefe Maneco Picanço o manto de Nossa Senhora do Pilar, padroeira dos Capelistas. Olhou a estrada e ordenou aos comandados que o seguissem e ali, daquele ponto, a Patrulha Touro deu oficialmente a largada. Alguns ainda os acompanharam até a primeira curva da Estrada da Graciosa... e aos poucos Antonina se distanciava de seus olhos, enquanto suas mães guardavam no ventre um misto de preocupação e orgulho.

2 comentários:

Edson Negromonte disse...

Pela primeira vez vejo a odisseia desses bravos escoteiros contada tão detalhadamente. Fico aqui ansioso aguardando mais postagens sobre a Patrulha Touro. Abraço!

Amigos do Jekiti disse...

Edson,
Sabe como são os acontecimentos históricos, não há detalhes sobre os fatos. O que a gente faz é pegar uma história ali outra aqui e desenvolve o tema. Claro que não é uma narrativa fiel do acontecimento, mas com um pouco de sensibilidade a gente monta o quebracabeça.
Grande abraço

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento