"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A ODISSÉIA DA PATRULHA TOURO

A CAMINHO DA CAPELA DA RIBEIRA

Caminhavam com cautela pela Serra da Bocaína para não errarem o caminho da Vila de Bonsucesso. Chefe Beto ia à frente, conferindo a trilha, enquanto Lydio encerrava a fila indiana. Sem comida e com pouca água eles seguiam pela mata, um distante do outro, alguns suplicando para si por uma boa refeição e cama macia. Chefe Beto quando os viu distantes e desanimados resolveu parar e juntar a tropa. Deu a cada um pouco d'água com açúcar para ludibriarem a fome e seguiram em frente.
Por volta do meio dia eles chegaram a uma estrada estreita e lamacenta, que segundo chefe Beto era o caminho para a Vila de Bonsucesso. Enquanto caminhavam Manduca e Canário conversavam sobre a proximidade do Natal, que seria dali a dois dias e por um instante a saudade da família lhes fez de refém. Milton era mais atento a paisagem, as orquídeas que quebravam o verde excessivo da Mata Atlântica, diferente de Beto e Lydio que só se preocupavam em desviar-se dos buracos da estrada.
Alguns metros depois cruzou com eles uma cabocla de olhos rasgados, sobre um cavalo magro e, sem disfarce, acelerou o trote na direção oposta, gritando: “É a Patrulha Volante”. O medo fez com que chefe Beto, imediatamente, ordenasse que entrassem na mata para evitarem algum possível conflito... Minutos depois, sem nada ter ocorrido, seguiram, com cautela, a caminhada em direção à Vila Bonsucesso.
Ao longe eles avistaram algumas casas simples e imediatamente imaginaram que algum perigo estava a vista, por conta dos brados da jovem morena. Mesmo com fome, chefe Beto não quis arriscar sua tropa e disse aos seus comandados para contornarem a vila, abrindo picada pela mata. Depois de meia hora de caminhada, eles avistaram um campo limpo, onde havia um pé de Ingá. Ali saciaram sua fome e descansaram um pouco sob a sombra da árvore.
Às 14h30min passaram por Antinha, onde fizeram uma refeição rápida e compraram mantimentos. Às 15h30min chegaram a Ouro Fino, onde acantonaram em um campo aberto aos quatro ventos. Próximo dali havia um regato de águas límpidas e geladas, que corria para o leste, ladeado por um caminho que serpenteava para dentro da mata, pelo qual se chegava a um desfiladeiro.
Ali fizeram uma refeição e, depois de meia hora de descanso, seguiram a caminhada, cortando o amarelado campo de linho. Uma hora depois chegaram a Serra do Cadeado e a contornaram por um caminho menos acidentado. Por volta das 17h00min passaram por São Sebastião e as 18h00min em Tuneiras, onde pernoitaram num paiol de milho cedido por um dos moradores da localidade.
Logo cedo, depois do café reforçado, seguiram com destino à Capela da Ribeira, sabendo que antes teriam que passar por Epitácio Pessoa. Andaram pela estrada carroçável, cruzaram pontes podricalhas até chegarem a um salto d’água, de nome Salto Tuneiras, sob o Rio Passa Vinte. Sabendo que não poderiam perder tempo, seguiram caminho pela estrada estreita, margeada por caminhões destroçados durante os combates da Revolução Constitucionalista de 1932. Quando chegaram a Gaganta do Leandro, eles se depararam com uma infinidade de cruzes, as quais marcavam os soldados mortos durante a batalha.
Às 12h30min passaram por Poço Grande e às 14h45min em Maria Gorda, onde ficava a mina de cobre Garapongá. Como estavam atrasados, seguiram a caminhada, por um caminho que margeava um rio de águas turbulentas e uma encosta íngreme de rochas sedimentares. Por volta das 15h30min acessaram uma estreita estrada, ladeada por árvores frondosas que impediam a entrada da luz do Sol e alivia o calor.
Às 18h30min chegaram ao povoado de Epitácio Pessoa. No alto do lugarejo uma pequena igreja comandava as casas simples, de parede de estuque, cujos moradores trabalhavam na lavoura. Havia uma única rua, mal conservada, que seguia para o norte, por onde eles seguiriam, logo cedo, para chegarem à Capela da Ribeira, na véspera de Natal.

Um comentário:

Edson Negromonte disse...

Nossa, essa reconstituição dos fatos, mesmo em grande parte fictícia, leva-nos a caminhar com os escoteiros da Patrulha Touro.

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento