"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A ODISSÉIA DA PATRULHA TOURO


PICO PARANÁ, O PRIMEIRO GRANDE DESAFIO

Com os músculos doídos, eles chegaram a Cachoeira de Cima, depois de atravessarem o Rio Cachoeira. Seguiram pela mata fechada até chegarem num lugarejo de pessoas que viviam da roça. Já na primeira residência fizeram uma pequena parada e beberam água. Quem os recebeu foram os familiares do sr. Said, que logo os acolheram para um almoço com galinha assada, arroz e farofa, depois, como sobremesa, caldo de cana bem fresquinho.
As catorze e trinta horas, com o sol mais ameno, puseram-se a caminhar pela estrada do Timbu, hoje Campina Grande, que ligava o sul de São Paulo ao Litoral Paranaense. Manduca, por ser um pouco obeso, reclamava das assaduras; Lydio, com bolhas nos pés, sentou-se sob uma árvore, e Chefe Beto, dentro de sua autoridade, deu-lhe apenas cinco minutos. Enquanto Lydio furava suas bolhas, Canário gritou que tinha visto uma cobra. Milton e Chefe Beto empunharam seu bastão e a mataram.
Às dezessete horas chegaram ao rio Saci e atravessaram a ponte. Depois de meia hora de caminhada os escoteiros chegaram num pequeno povoado localizado próximo a estrada de Bocaiúva. Pararam em uma pequena fábrica de mandioca abandonada, onde resolveram passar a noite. Manduca fez o fogo, enquanto os demais foram colher aipim numa roça, que Milton tinha avistado nos fundos da fabriqueta abandonada.
A noite caía espessa e Manduca preparava a janta, engrossada pelos talos da mandioca. Milton e Lydio escoraram, com cordas, as paredes da pequena fábrica, com medo que elas desabassem sobre suas cabeças, enquanto Canário ajudava Manduca na comida.
A comida estava pronta e eles sentaram em volta do fogão improvisado. Enquanto comiam, Beto sugeriu que fizessem uma fogueira e que montassem guarda de duas em duas horas. Esta providência era necessária já que ouviram de alguns moradores do local que a região era infestada de animais selvagens.
Eles se levantaram às cinco da manhã. Era dia 19 de Dezembro, dia da Emancipação Política do Paraná, lembrou Canário. Tomaram café com biscoito e empunharam seus bastões e mochilas. Chefe Beto puxou uma pequena oração, pedindo a Nossa Senhora do Pilar proteção e força para seguirem em frente.
O sol estava alto e iniciaram a jornada atravessando a roça de aipim, a caminho da temida do Pico do Paraná. Ora um ora outro tomava a frente, cuidando para não errarem a picada.
O medo estava estampado em seus olhos. Pela primeira vez o desejo de desistirem e voltarem já fazia parte de seus pensamentos. Mas ninguém ousava em tocar no assunto com medo de quem alguém o chamasse de covarde. Finalmente chegaram à casa do último morador da região e ali souberam do senhor Antônio Órfão que já estavam próximos ao Pico do Paraná, com seus 1962 metros de altitude. Era o trecho mais difícil e perigoso da missão, pois teriam de enfrentar a mata fechada cheia de espinhos e urtigas, desfiladeiros traiçoeiros, jararacas, urutus, caninanas, e aranhas caranguejeiras. Vendo o espanto nos olhos dos companheiros, Chefe Beto bradou:
- Chegou a hora de provarmos a nossa glória!
Foram horas caminhando sem água. Mesmo sem a ordem para descasar, Manduca tirou seu material e sentou-se no meio da picada e Chefe Beto entendeu, dando-lhes alguns minutos de descanso. Depois seguiram pela íngrime escalada, passando por penhascos e grotas, até chegarem ao Rio Cachoeira. Ao verem as águas correntes, eles tiraram suas roupas e banharam-se por alguns minutos. Fizeram um lanche rápido e seguiram em frente, pela trilha incerta. Meia hora depois pegaram uma estrada larga, ladeada por casas simples e bem conservadas. Pararam em uma das casas para pedirem informações de como chegariam a Capivari e o morador lhes disse para seguirem em frente, margeando um riacho.
Após três horas de caminha, montaram suas barracas para tentarem dormir, mas por volta das quatro da madrugada caiu uma forte tempestade. O temporal os obrigou a seguir em frente, pela trilha longa e lamacenta para encontrarem um lugar seguro.
Já amanhecia quando chegaram no comércio de Alderico Bandeira. Encharcados, pediram ao proprietário para ceder um cômodo onde pudessem trocar de roupa. Sem exitar seu Alderico lhes ofereceu o salão ao lado do armazém e ali eles puderam trocar suas roupas e descasarem um pouco.
Às oito e trinta, tomaram café com pão caseiro e marmelada. Através da janela eles podiam ver a criação de suínos da raça Duroc e a extensão da propriedade. Foi então que Alderico lhes disse que o lugar se chamava Capivari. (localidade que foi submersa pelas águas da Usina Parigot de Souza).
À tardinha eles chegaram na localidade de Praia Grande, depois em Serraria e, ao atravessarem o Rio Tucum, avistaram o lugarejo de São Pedro, no distrito de Bocaiuva, onde compraram mantimentos para seguirem em frente.
Depois de andarem pela mata fechada, abrindo picadas, encontraram uma clareira e ali pararam para pernoitar, mas antes Chefe Beto resolveu conferir a trilha e projetar a caminhada até a Capela da Ribeira, passando pelo lugarejo de Bonsucesso, pela difícil Serra da Bocaína, pelas vilas de Antinha e Ouro Preto e por fim pela difícil passagem da Serra do Cadeado, até chegarem em São Sebastião e Tuneiras.

2 comentários:

Edson Negromonte disse...

Sinceramente, eu já estava sentindo falta da aventura dos escoteiros; a reconstituição está muito boa. Abraços!

Fortunato disse...

Jaques...pelo seu comentário teu apelido deve ser...vou deixar para os outros leitores.

Esse fato é real, não faça bricadeira com as coisa de Antonina que nos dão orgulho.

Se intere do fato, e respeite esse homens/escoteiros.

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento