"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



terça-feira, 23 de novembro de 2010

OS VONDAS E EU

No ano de 1976 fui apresentado ao Serginho, baixista e grande mestre dos Vondas, pelas mãos de Geraldo Leão e Edson. Ele tinha um estúdio no bairro das Mercês e lá pude, pela primeira vez, sentar-me, decentemente numa bateria de verdade. Era uma "Pinguim", mas dava pro gasto. Serginho pegou o seu baixo Hofner 500, igualzinho a do Paul McCartney, Kuki, sua esposa na época, empunhou a Gibson, enquanto eu, aflito e suando frio, esperava pelo riff de Bitch, dos Stones... Serginho nos avisou que no quatro deveríamos entrar, e assim foi... 1, 2, 3 4...
Não era um exímio baterista, mas jamais me perdia no andamento. Serginho percebeu meu potencial e passamos alguns meses ensaiando Beatles, Stones, Led Zeppelin e outros giants do rock ´n roll.
Em casa, não tinha bateria, mas me virava numa poltrona de corvim, de encosto inclinável, na qual eu tirava as canções para o ensaio à noite.
No último final de semana, minha mãe, no almoço, conversando com Lia, minha esposa, comentou o fato. Além da preocupação com o desmonte da poltrona, havia o medo que seu filho mergulhasse nas drogas por causa do rock´n roll - sexo, ela até incentiva, desde que fosse com mulher -, e acho que nunca a decepcionei - sem querer ser homofóbico, é claro!
Saía de casa por volta das sete da noite e só chegava altas horas, pé ante pé para não ouvir alguma represália da minha mãe. Sendo justo com ela, devo declarar que nunca recebi uma bronca da minha, embora percebesse em seus olhos o tamanho da precupação.
Certo dia, ao entrar no estúdio, me deparei com um cara sentado na "minha bateria". Assim que me acomodei ele, talvez para me oprimir, estraçalhou um solo, cuja perfomance lembrava John Bohann, do Led Zeppelin, em Moby Dick. Naquele exato momento percebi que meus dias, como baterista dos Vondas, estavam contados e, por um instante, cheguei a acreditar que Serginho, mesmo asim, não faria uma canalhice comigo. Claro, acabou fazendo. E eu, que havia estraçalhado a poltrona de minha mãe, por causa do meu amor pelo rock, senti-me muito mais culpado e deprimido.
No ponto do ônibus, ainda querendo entender o motivo pelo qual fui despedido da banda, Edson olhou para mim e me salvou:
- Prefiro sua batida a dele (o baterista). Tua arte é mais simples, portanto, tem mais cara de rock.

7 comentários:

Edson Negromonte disse...

Boas, ótimas lembranças de um tempo inesquecível. Você, Luiz, acostumado à porradaria nas poltronas, não só nas da sua casa, mas na do quarto do Geraldo Leão também, quando foi fazer o teste para tocar nos Vondas, acabou rasgando os couros da bateria do Serginho. A partir daí, para mim e Geraldo, você se tornou o nosso Keith Moon, cujo teste no Who é bem parecido com o seu: o cara detonou o bateria com tal violência e selvageria que o Pete Townshend contratou-o na hora. Se não me engano, o baterista que tomou o seu lugar foi o Nego, puta pedaleira. Mas você, como Keith Moon, era visceral, selvagem, violento; você tocava com as tripas e o coração. E, além do mais, era meu amigo do peito. Abração!

Amigos do Jekiti disse...

porra, Edson, é verdade. Furei a pele da bateria do Serginho.
Acho que foi o Nego. Ele era extremamente rápido e técnico. O cara tinha um estilo do baterista do Mahavishinu Orquestra, Billy Cobhan.
Grande lembrança, meu amigo
abração

PAULO R. CEQUINEL disse...

Quiospariu, Mahavishnu John McLaughlin?
È o que dá vocês não botarem fé neste ornitorrinco que tem cara de bobo, jeitão de bobo, andar de bobo, mas, definitivamente, não é bobo, e este é o problem insolúvel de vocês todos.
PAULO ROBERTO ENXERIDO CEQUINEL

Amigos do Jekiti disse...

Aposto que meu recorrente carrasco judicial, assistia ao Sábado Som, do nosso querido Nelson "bundinha" Motta, pai da Esperança.
Nesses tempos, lá nos idos anos 70, eu era apenas um militante da esquerda festiva.

TOKADARTE disse...

Pô Luiz, se vc tivesse lembrado que antes de ser Vondas o conjunto de Serginho se chamava Idéias de Cão, não teria caido nessa.
Bons tempo aquele, muito rock.

Amigos do Jekiti disse...

Ideia de cão??
que maravilha!!
abração Mauricio

Jotade disse...

Olá LUIZ HENRIQUE RIBEIRO DA FONSECA!
Fiquei feliz em ler sua história com Os Vondas! Especialmente o caso da Pele da caixa da bateria do Serginho lá na casa dele na Rua Julia Wanderlei.
Pois saiba que fundamos Os Vondas em 1965, eu Jotade Silva, (Zé dos Vondas) e o Serginho Macedo e nossa 1ª apresentação como Os Vondas foi numa tarde de domingo no salão de festas da Igreja das Mercês e dali para o Canal 6 onde fomos a banda oficial por longos 3 anos!
O último show dos Vondas foi em dezembro de 1974 no Círculo Militar do Paraná onde tocamos nós "Os Vondas", A Chave e o Secos $ Molhados. Me liga ahê! YOUTUBE- jotade1000 e jotadesilva@hotmail.com Abraços

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento