"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O HERÓI DE GUAPIARA

Andaram margeando a estrada até Guapiara, distrito de São José do Paranapanema. Andaram pela rua principal, na direção da prefeitura, onde deveriam entregar o Livro Diário ao prefeito. Enquanto caminhavam, os cincos se surpreendiam a quantidade de japoneses que passavam em carroças com a produção agrícola.
Enfim chegaram à prefeitura e, depois de muito esperarem, foram avisados que o prefeito não os receberia. Desolados, porém determinados, foram à delegacia, que ficava a poucas quadras, e se apresentaram ao delegado. Assim que narraram a odisséia, o delegado, de nome Péricles, lhes deu um caloroso abraço e imediatamente lhes ofereceu sua residência para pernoitarem.
À tardinha banharam-se no Rio Pequeno e depois visitaram a cidade. Praça, igreja e prédios públicos eram extremamente bem cuidados. Havia um bom hotel e alguns estabelecimentos comerciais, nos quais, em sua maioria, vendiam o que os rurícolas produziam.
À noite não saíram, pois estavam extremamente cansados. A esposa do delegado serviu-lhes o jantar e depois um café na varanda, onde puderam se deliciar com a brisa leve e com as histórias do delegado sobre a cidade. Dr. Péricles tinha o hábito de fumar cachimbo, de falar muito e gargalhar com uma boa piada, mas a sua maior característica era o seu jeito espalhafatoso com que contava suas histórias sobres os bandidos que prendeu.
Segundo ele, o mais perigoso homem que ele prendeu foi João “boca rica”, cujo apelido lhe valeu pelos dentes de ouro que tinha na frente da boca. Segundo Péricles, João era metido a brigar em bares, simplesmente por não gostar de pagar a conta. Na noite em que foi preso, João discutiu com um cliente sem razão aparente e Péricles foi avisado. Assim que chegou encontrou João brigando, aos socos, com mais dois freqüentadores do bar. Sem cerimônia, Péricles sacou da arma e exigiu que a confusão terminasse. João, sem medo, encarou o delegado e lhe disse:
- Se tu és homem, largue a arma e venha na mão.
Péricles aceitou o desafio e os dois foram para fora do bar acertar as contas. Antes do combate, Péricles lhe propôs um acordo:
- Se você perder a briga vai para a cadeia vestido de mulher.
- E se eu ganhar? – retrucou João.
- Deixo você partir e pago o prejuízo.
João, com um meneio de cabeça, concordou e partiu para cima de Péricles...
Os espectadores gritavam a favor do delegado e este, como Joe Louis, bailava na frente de João, tentando cansá-lo. Este, mais forte, porém com menos cérebro, partia para cima de Péricles de maneira espalhafatosa, sem nenhum soco acertar. Já ofegante e sem forças para acertar os golpes, João, aos pouco era abatido por Péricles, com jabs de esquerda. A multidão, percebendo que Péricles a qualquer momento nocautearia João, se inflamava e pedia logo o fim da luta. Por fim veio o golpe de misericórdia, no queixo de João "boca rica", que caiu na rua de paralelepípedo, sem conseguir reagir.
A multidão gritava o nome de Péricles, enquanto a esposa do dono do bar trazia um de seus vestidos para colocar em João “boca rica”. Péricles, nos ombros da multidão, levantava os braços, como se ganhasse o título dos Pesos Pesados, enquanto João, já devidamente vestido, esperava para pagar sua dívida.
Depois que terminou a história, Péricles, em meio ao seu orgulho, baforava seu cachimbo e, com um leve sorriso vitorioso no rosto gordo e bolhachento, disse aos cinco escoteiros boquiabertos:
- Numa briga o que vale mais é o cérebro. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara, estou curioso pelos proximos episódios! 19 de feverereiro é a dead-line da patrulha touro!!
grande abraço

Jeff Picanço

Edson Negromonte disse...

Nossa, sua imaginação voou mesmo desta vez. Dá para imaginar a cena: o delegado contando a façanha e os escoteiros ouvindo boquiabertos. Abraço!

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento