"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quarta-feira, 6 de julho de 2011

AS COLHERADAS DO VELHO GERALDO CAMARGO

Numa tarde bucólica do outono de 1975, estávamos aprendendo a técnica das colheres com o velho Geraldo, pai do Geraldo Leão, em sua loja de autopeças, no prédio do Rio Apa. Seu método consistia em pegar duas colheres, prendê-las nos dedos da mão, uma sobre a outra, e, intercalando as batidas na palma da mão e nas coxas, acompanhar a música. Não havia canção que ele não acompanhasse - inclusive os rocks mais ferozes -, mas eram os sambas e o country suas especialidades. De súbito, ele largou tudo sobre o balcão e nos disse para segui-lo. Ele vira a professora Lúcia estacionar seu fusca novinho em frente à casa da dona Tite e disse que aprontaria alguma. Saímos da loja e o seguimos ansiosos, para saber qual seria a maluquice que o pai do Gê iria inventar. Paramos em frente à casa da dona Tite e o velho Geraldo, agachado em frente ao carro da professora, nos disse para ajudá-lo. Todos entenderam sua pretensão e nos tornamos cúmplices da sua idílica sacanagem. Geraldo Leão, Chico Liberato e eu pegamos no pára-lama dianteiro direito, enquanto o velho Geraldo, Edson Negromonte e Maurício “galinha” faziam força no pára-choque dianteiro do fusca, com objetivo de colocar a parte da frente sobre a calçada.
Atingido o intento, saímos correndo e ficamos a espreita na porta da loja. Não demorou muito e a professora Lúcia surgiu, acompanhada por dona Tite. As duas conversaram por alguns minutos, sem perceberem o que havia ocorrido com o fusca. Nós, na porta da loja, disfarçávamos o escárnio para que elas não desconfiassem de nada. Minutos depois, Lúcia despediu-se de dona Tite e, ao se virar, deparou-se com o inusitado.
- Meu Deus – exclamou a professora, tentando encontrar algum dano na lataria.
Dona Tite tentava acalmá-la, confortando-a de que não houvera nenhum dano material, mas a professora Lúcia, inconformada, não desistia de uma resposta para o ocorrido.
O velho Geraldo resolveu conferir de perto e nós o acompanhamos. Chegando lá, perguntamos o que sucedia e ela não sabia o que responder, apenas perguntou se tínhamos visto alguma coisa.
- Claro que não – respondemos em cima.
Em seguida surgiram algumas hipóteses:
- Acho que foi o vácuo de um enorme caminhão em alta velocidade – disse um de nós.
- Não! Foi a trepidação! - retrucou outro.
- Vai ver que dona Lúcia bebeu demais – disse Chico, sob o olhar inquisidor de dona Tite.
Depois de algumas explicações absurdas colocamos o carro na posição correta e ela, mas calma, agradeceu. Dona Tite, como nos conhecia, interrogava-nos com o olhar, querendo que um de nós desse algum indício do delito. Mas nos mantemos firmes e eretos, para não trair a confiança do bom e velho Geraldo. Assim que a professora Lúcia se foi, dona Tite, muito desconfiada, dirigiu-se até mim e, com um sorriso no canto da boca, me interpelou, mas eu não cai na sua astúcia. Para que não fôssemos pegos, resolvemos sair à francesa, contendo o riso. Passos depois, durante a travessia da rua, nós ouvimos o pai do Gê falar a cunhada sobre uma possível “barbeiragem” da professora Lúcia que, segundo ele, nada inusitado para uma mulher. Não resistimos a cara de pau do velho Geraldo e gargalhamos, dando a dona Tite o indício de prova do nosso delito.
Quase próximos à loja e sem coragem de olhar para trás, ouvimos a sentença:
- Quem não os conhece que os compre!

4 comentários:

Márcia disse...

Ótimo texto Luiz Henrique! Mesmo não tendo participado dessas tuas lembranças, tudo parece tão familiar, quando na leitura eu vou relembrando do "elenco"!
Parabéns!!!!!

TOKADARTE disse...

Grande Luiz, sempre lembrando dos bons tempos, realmente foi um fato muito engraçado.

Anônimo disse...

Ano de 1994,copa do mundo nos E.U.A,Brasil- 1 x 0 Espanha ,estava em frente ao restaurante cruzeirao comemorando com o povão que se concentrava na avenida ,estava eu proximo do Mauricio Pezudo,que trabalhou no B.Brasil,ele estava meio doidão,olhar fixo e serio,derepente ele tomou distancia ,2 passos para traz e chutou o traseiro de uma moça que tinha um quadril avantajado ...a moça ficou sem ação nao sabendo o que estava acontecendo, eu nao ri...fiquei chocado com a sena ...nao vou disser o nome da moça ...mas vcs conhecem ,vcs do Jekiti...nao sei se ela contou a estoria e deu queixa na policia ...o que será que o mauricio estava pensando na hora que deu o chutão.... Horácio ctba

Anônimo disse...

estava navegando no blog..e sobre o Relem ,alguma homenagem foi feita p ele ?recebeu nome de rua ou praça?não me lembro bem o ano ,mas estava comendo um hot dog do tutuca na praça e ele estava conversando com os taxistas do lado do jequiti,a conversa não peguei do começo,mas no final ele se saiu com essa :- o cara qdo pega uma mulher bonita e gostosa goza rapido...

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento