"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



sexta-feira, 2 de março de 2012

CEM ANOS DE SOLIDÃO

Às vezes a literatura de ficção nos faz enxergar melhor a realidade. Quando estava pensando no que escrever a respeito da “provocação” do anônimo Zé Ninguém sobre a elite de Antonina, me veio à mente o livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques. Logicamente não vou fazer uma resenha do livro, para não me tornar prolixo e me perder em detalhes triviais, mas algumas analogias entre Macondo (a cidade fictícia) e Antonina são reveladoras, principalmente sobre a ascensão e queda da sua elite e as pragas que assolaram seus moradores.
Mas antes de entrar nas revelações análogas, gostaria de explicar que para entendermos nosso presente é preciso recorrer ao passado e dele procurar o contexto sob o qual a sociedade foi formada. Se analisarmos a história antoninense concluiremos que nosso espírito é secessionário. Nossa colonização é muito mais paulista que portuguesa e se pensarmos bem chegaremos à conclusão que a elite reacionária daqui seguiu os mesmo ditames da elite paulista. A paulista sempre foi arrogante, acostumada a ditar regras e comportamentos, e na política sempre foi dada a golpes, pois jamais se conformou com a perda da sua hegemonia quando Getúlio implantou a Nova República e acabou com a política dos barões do café. Inconformada a elite paulista protagonizou uma insurreição, a qual ela chamou de "revolução constitucionalista de 32". Claro que a elite saiu ganhando, em termos, tanto que Getúlio convocou uma assembléia constituinte. Lá como aqui, a elite apoiou o golpe de 64, tanto que teve até agiota preso estigmatizado de comunista.
No nosso caso, a elite era subserviente, isto é, sempre dependeu da política da capital. Como nosso estado nunca teve representatividade nacional, essa elite se sujeitou aos caprichos das lideranças paranaenses, tanto que afundou depois que Paranaguá tomou seu espaço na política paranaense. Lembrem-se da BR que liga ao porto de Paranaguá, do fim do subsídio do trigo e, consequentemente, da morte do Matarazzo. Portanto, morrendo o porto e o Matarazzo, morreu nossa elite, a dona do nosso saber. Mas se analisarmos bem, seus ranços ainda vagam sobre nossas cabeças, como fantasmas que nos fustigam.
A formação da nossa elite se deu no início do século XIX, cujo ápice foi nos anos 20 e 30 do século XX, culminando no seu fim anos depois que o Porto e Matarazzo estagnaram. O grande problema desses 40 anos foi a falta de um projeto para Antonina, que possibilitasse o desenvolvimento por outros caminhos que não fosse pelo mar. Mas para mostrar essa nova direção a sociedade antoninense teria que criar novas lideranças: uma elite produtiva, engajada e perspicaz, que usasse a política como meio de trazer renda para a cidade combalida - Curitiba soube como fazê-lo, implantando a CIC (Cidade Industrial de Curitiba) em plena crise dos anos 70. Antonina podia, via política, se beneficiar desse projeto, reivindicando para si uma pequena fatia desse bolo; mas como cobrar tal atitude se já não havia mais lideranças? A elite atrofiada, acostumada a tutelagem, viu-se sem perspectivas e resolveu recolher-se em seus casarões e lá arrastarem suas correntes, mas sem jamais perder a pose quando levavam o Cristo morto sobre os ombros.
Macondo fictícia e Antonina real têm suas semelhanças. A elite fundadora e seus nomes herdados e a cidade falida arruinada pelas pragas e temporais. De intrépida cidade de outrora, Antonina, como Macondo, viu sua elite mergulhar em mistérios e conflitos, e seus moradores, como a parte mais surreal dessa realidade, vagarem sem rumo, como zumbis insones a procura de um desfiladeiro que os retrocedesse ao passado.
A prova recente do que está descrito acima é a alteração do uso e ocupação do solo. Antonina mais uma vez esqueceu seu projeto de cidade e se afundou na lama das intrigas. Esqueceu, porque não sabe ou não está acostumada com os trâmites legais, a ouvir os envolvidos, a estudar os impactos, a zelar pelo bem coletivo e, principalmente, a resistir ao fisiologismo político e interesse pessoal e financeiro, como bem descreveu o juiz que deferiu a liminar movida por Fernando Matarazzo.
O Plano Diretor de Antonina, que seria o desfiladeiro de volta aos tempos idos, transformou-se no pergaminho prodigioso da obra de Garcia Marques, cuja epígrafe preludiou o fim da cidade das miragens, e seu povo e sua estirpe, condenados a cem anos de solidão, não teriam outra oportunidade sobre a terra.

14 comentários:

Anônimo disse...

De uns anos para cá, nossa região viveu retrocesso econômico. Muito pior do que Antonina, Morretes.
Lá resolveram a questão. O turismo está a pleno vapor, COM INTENSA COLABORAÇÃO DA PREFEITURA.
aqui remanesce o dilema: porto x turismo. a prefeitura aposta no porto e pouco faz pelo turismo, que EXIGIRIA MUITO, MUITO MAIS DEDICAÇÃO E CRIATIVIDADE POR PARTE DA PREFEITURA.
estão apostando no mico e deixando de lado o que poderia resolver a penúria econômica da cidade. Haja vista o triste espetáculo proporcionado pelas autoridades, no caso da fortesolo. Sob o pálio de se criar emprego (nunca disseram quantos empregos seriam criados) - mudaram até o plano diretor da cidade, porque isso interessava a uma empresa que usa Antonina como local de passagem, para realmente produzir riquezas para os municípios do norte do estado. Mas isso, se não traz lucro, não dá trabalho pra prefeitura e se amolda à mediocriadade e à inércia dessa gente, dominada pela 'doce preguiça que bate depois do almoço'....

É de se concordar com nosso colunista. Antonina é um fantasma do passado. Está esperando o Matarazzo ressuscitar das cinzas. a prefeitura não acorda para o seu verdadeiro papel. embora o conheça, melhor ficar nessa de curtir apenas a atividade meramente 'fisiológica' de tocar as coisas, como se a cidade e a prefeitura fossem coisas estranhas uma à outra.....

complementando equiparações, na literatura brasileira tem um escritor cujas obras se amoldaM perfeitamente à inércia econômica do reino:- são as obras de JOSÉ CONDÉ. (santa rita, pensão riso da noite, etc.... - tem outras - faz muito tempo que li.)

a verdadeira salvação econômica daqui está exatamente onde Morretes encontrou a sua:- NO TURISMO, que não interessa só para esses atuais governantes da cidade.
O porto sempre vai ser uma desinência do porto de Paranaguá:- mesmo o adubo, no dia em que houver disponibilidade de descarga lá, aqui o porto fecha outra vez.
Basta saber ver e fazer contas....
o porto daqui, msmo o ponta do felix, é porto para chalupas e caravelas. nunca vão receber os navios modernos de grande calado. nunca que o governo estadual e federal vai gastar fortunas para aumentar o calado deste "farol do fim do mundo" isto não é ser pessista:- é ser realista.
MAOS À OBRA, GENTE, O TURISMO É A SOLUÇÃO!!! NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES, TIREM OS FISIOLOGISTAS QUE ESTÃO NA PREFEITURA:- COLOQUEM GENTE COM VISÃO EMPRESARIAL!!!

Amigos do Jekiti disse...

Concordo com seu excelente texto, porém uma cidade não se sustenta apenas com turismo. Antonina precisa criar empregos e o turismo é um caminho, mas, pelo panorama que aí está, não possibilita maiores perspectivas ao empregado.
Sou a favor de um pólo industrial, mas para isso é preciso vontade política e esforço das instituições para viabilizarem esse intento.
Washigton Luis já dizia; "Governar é abrir estradas"... se é que me entende.

Zé Ninguém disse...

Marco Túlio Cícero, grande orador e político romano disse:

"O primeiro passo para o conhecimento é sabermos que somos ignorantes."

Falta modéstia ao povo de Antonina!!

Se Antonina já foi alguma coisa um dia, hoje não é mais!


Morretes era pequena e acanhada e hoje é muito conhecida. Conhecida por pessoas que nem sabem que Antonina existe!

Zé Ninguém

Anônimo disse...

O texto que inaugura este assunto é surpreendentemente verdadeiro, mas carece de complementação.
A comparação da 'elite' antoninense com a 'elite' paulista é perfeita.
Lá era o café. Aqui o mate. Quando o café quebrou, a elite de lá faliu.
Quando o mate encontrou outras plagas, a elite daqui faliu.

Agora vem a essencial diferença:- Os cafezais de são paulo eram tocados, depois da alforria dos escravos, por italianos, espanhóis e japoneses, imigrantes esses que tomaram a si a iniciativa econômica. São Paulo estava 'maduro' para a falência do café.
Aqui não ocorreu o influxo rejuvenescedor da imigração. Continuou o povo matuto e sua 'elite', que permanece até hoje de nariz empinado, orgulhosa e estupidamente presa a um passado de glórias que não mais existe e que usa e abusa do patrimônio público, como se coisa sua fosse...

O único imigrante que passou por aqui, foi o que mudou a face econômica.... Pena que Matarazzo foi um só. Pena que Ele não tenha incentivado a imigração que fez a pujança de são paulo, de curitiba, interior do parana, e do rio grande do sul...... Morreu o Matarazzo, Antonina voltou aos braços de 'elites' esclerosadas. Antonina é genuinamente brasileira. Por isso é que tem cabeças e sangue ruim....

JUBA disse...

E o Brasil importando bananas.

Anônimo disse...

Sem generalizações, realmente há preocupante número de "cabeças de bagre" por aqui.

para essa elite m... que senta no trono e c... igual aos outros cabe o provérbio:- perdeu o trono mas não perde a magestade....

Anônimo disse...

Polo industrial em Antonina? Precisa ver se a COPEL concorda. Embora Antonina produza energia para outros municípios, tenho minhas dúvidas de que aqui exista equipamento de transmissão para energia pesada, que um pólo industrial exigiria.
Além disso, indústria, significa mão de obra especializada, o que não tem por aqui. (a mao de obra mais especializada por aqui é alterocopismo)

Logo no começo desse (des)governo municipal, fizeram muito alarde, inclusive com fotografias, de incentivo à indústria de confecção de roupas. Seria uma ótima para Antonina. A sistemática é de fácil absorção tecnológica, não exige muito investimento em cada unidade de produçao, e não precisa de pólo industrial. E, muito importante. Depois de acionada a sistemática, a prefeitura pode voltar a dormir em berço esplêndido. Mas o 'pobrema' é que voltaram a dormir no dia seguinte às fotografias tiradas....
Era só ter melhorado aquele curso que tinha na época do Kleber, e que era administrado pela Adlea.

Anônimo disse...

Melhor explicando: naquela época, a Adlea fazia o que podia, com as migalhas que a prefeitura Lhe passava para compra de material.... que eu me lembre, não era equipamento industrial.

Henrique disse...

O assunto é interessante e vem tratado com seriedade pelo blogueiro e pelos participantes. Também acredito que paramos no tempo. Não acompanhamos o desenvolvimento do Brasil. Quero lembrar que o Brasil somente acordou quando deixou de lado a monocultura ( café)na época do JK.
Posteriormente tivemos quase trinta anos de atraso em função da Ditadura Militar patrocinada pelos Estados Unidos.
Parece que Antonina ainda não descobriu que a ditadura militar acabou. A solução para Antonina está na adoção de um sitema desenvolmentista multimodal. Só o nosso pobre porto e o nosso pobre turismo não vão resolver. Precisamos de tudo que nos traga emprego e renda. Desde o artesanato, artes em geral, educação ( tecnica e de nível superior ), agricultura, piscicultura, etc.
Caso isto não aconteça Antonina continuará ser como Camboriu (SC), uma terra de aposentados. Só que com uma diferença: Camboriu, atrai aposentados ricos e Antonina atrai aposentados pobres, em função do preço baixo dos imóveis.

Anônimo disse...

não mecham com quem já trabalhou a vida inteira. Pelo contrário sigam o exemplo deles, que nesta terra tem oportunista e vagal demais, cuja especialidade é se encostar 'nela'.... na p......

JUBA disse...

'A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê já se passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais."
Autor: Mario Quintana

Anônimo disse...

aqui, nem aos militares imitam direito: por aqui não tem ditadura militar: tem é dentadura postiça que até militar de estirpe regeita.

Anônimo disse...

Editor, o PD de Antonina, para vc é como a Bíblia? Imutável?

Anônimo disse...

Não sou uma pessoa muito estudada como uma boa parte destas que aqui escrevem. Só quero lembrar algumas coisas não muito relacionadas com o assunto aqui exposto, mas lá vai:
Antes do Hotel Regengcy/Capela/Camboa instalar-se(cujo terreno era da prefeitura)naquele pequeno morro não havia árvores, que hoje deturpam a imagem vista do trapiche da Igreja Matriz.(ninguém reclamou). Hoje no alto da Matriz temos uma Tenda de vendas de produtos religiosos, também denegrindo a imagem da Igreja Matriz e até agora ninguém denunciou. A Telepar/Brasil Telecom instalou uma baita torre de telefonia através da Igreja Matriz acabando com a imagem livre que tínhamos atrás da Matriz. E daí a Igreja é ou não é nosso principal ponto turístico ? Deixo a palavra para os entendidos.

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento