Na história recente desse país
nunca foi tão perceptível o quanto vivemos sob o ranço do totalitarismo. Se por
um lado as instituições democráticas funcionam na sua plenitude, garantindo o
direito pleno da livre manifestação, por outro, dentro deste núcleo, há uma
forte intenção de retrocesso, como ocorrera no Brasil, no início de 1964.
Governos populares como o de
Jango, Lula e Dilma, cuja característica principal é a justiça social,
tornam-se alvos fáceis para aqueles que ainda insistem em viver numa sociedade
excludente. Essa característica ainda é um legado da nossa cultural colonial
escravista que verticalizou as relações sociais em mando-obediência e que teve
como símbolo principal a Casa Grande e a Senzala.
Com a abolição da escravatura
essa relação se intensificou e os mais desfavorecidos foram expulsos dos
espaços urbanos pelas mãos do Estado autoritário, tudo em nome de uma
higienização de interesse exclusivo das elites. Pobres e ex-escravos foram
confinados em guetos, morros, sem direito à cidadania e incapazes de lutarem
por seus direitos políticos e trabalhistas.
Com o aumento da pobreza nas
grandes cidades, fruto do capitalismo da revolução industrial, as classes
operárias intensificaram seu processo de luta e com a formação dos partidos de
esquerda, principalmente o PCB, conseguiram, já na Nova República, leis que
lhes garantissem melhor condição de trabalho e seguridade social.
No período pós-guerra as desigualdades se intensificaram e o Brasil só começou a respirar novos ares no
governo JK, através de um projeto desenvolvimentista, mas que trouxe consequências danosas para as contas públicas, com o endividamento
interno e externo.
Para superar o quadro caótico, Jango propôs as
reformas de base e a reforma agrária, atiçando as forças conservadoras para a
sua derrubada. Aliados ao golpe militar estavam a pequena burguesia
conservadora, a sociedade industrial e os Estados Unidos que, em plena Guerra
Fria, temiam que seus interesses corporativos fossem prejudicados pela
aproximação do Brasil ao bloco socialista.
Foi a partir do golpe que se
percebeu que a velha elite ainda determinava o destino da maioria do povo
brasileiro, e com o fim dos partidos de esquerda a classe trabalhadora ficou
sem armas para lutar por seus direitos. O projeto capitalista/liberal foi a
ideologia aplicada pelo regime, subserviente à política econômica norte-americana, mas ruiu logo após o “milagre econômico”, com a crise do petróleo.
Mesmo com a democratização nos
anos oitenta o Brasil seguiu com a ideologia liberal, mundialmente comandada
por Reagan e Thatcher, época em que a desigualdade se intensificou
principalmente nos países da América–latina. Endividados com o FMI e
submissos aos interesses americanos, o Brasil e demais países sulamericanos,
cortaram investimentos em políticas públicas, tendo como consequência um dos
mais baixos IDH do mundo, nos anos noventa.
No governo Lula a postura foi de
independência, tanto que foi à China, à Ásia, Leste europeu, Oriente Médio e se
aproximou dos países vizinhos, diferente de FHC, que obedeceu,
religiosamente, as regras impostas pelo governo americano e aliados dele.
A soberania do Brasil de Lula
no mundo foi o grande salto para que a economia crescesse, que o mercado
interno consumidor atingisse as camadas menos favorecidas e se
investissem em políticas assistenciais, com o intuito de acabar com a fome e
diminuir as desigualdades sociais.
Mas o grande mérito do Lula
não foi a originalidade e sim a inspiração em Jango que há cinquenta anos adotou
uma postura multilateral, aproximando-se de países de pouca ou nenhuma tradição
comercial com o Brasil e, em relação à política interna, propôs as reformas de
base que, com certeza, fariam desse país uma grande potência mundial.
Infelizmente perdemos cinquenta anos na nossa história com milagres econômicos sem nenhum
investimento na área social e com um delírio neoliberal no governo FHC que
dilapidou o patrimônio público, em nome de uma obediência às regras
capitalistas lideradas pelos Estados Unidos.
Mas ainda há desafios a serem superados, além da desigualdade social. Entre eles está o ranço da subversão da
Casa Grande, representados pela grande mídia, pela atuação monárquica do
judiciário e pelos segmentos conservadores que ainda agregam raízes totalitárias dos tempos coloniais e das velhas oligarquias.
No entanto é preciso destacar
que outro desafio está nas entranhas do próprio Estado, que é combater esse modelo contratual e hierárquico do monopólio da violência, que impede de avançarmos
para uma nova era política e cultural. As manifestações de julho provaram que
os atos de vandalismo geraram indignação por parte das autoridades e mídia,
como uma forma de se utilizar de um discurso com o intuito de manter em ordem o sistema vigente e provocar uma cisão nos movimentos, genuinamente, reivindicatórios.
Se no seio dessas
manifestações existem intenções de retrocedermos na democracia é porque há uma
forte insatisfação com a forma pela qual as instituições são violentadas pelo fisiologismo
político e interesse pessoal da classe que as representam. Mas, por outro lado, é preciso
reconhecer que o desejo de retrocesso prova que ainda conservamos em nossas entranhas
a cultura da Casa Grande e da Senzala e o desejo de manter a sua estrutura hierárquica do
mando e da obediência.
5 comentários:
Esqueceu Getúlio Vargas????
Texto longo demais. Só me referi à Nova República..rsss
Muito boa a abordagem.
Interessante como a história se repete:
Porque o conservadorismo quer tanto a Rede de Marina?
Por Fernando Brito, no Tijolaço.
O conservadorismo brasileiro está em franca campanha para que os ministros do TSE aprovem a criação da “Rede” de Marina Silva.
Com assinaturas ou sem assinaturas exigidas pela lei, importa pouco.
Mas está difícil.
Merval Pereira, o Ruy Barbosa do casuísmo, depois de revogar os embargos infringentes por conta própria, agora quer revogar as exigências legais e lamenta que o tribunal esteja inclinado a “optar pela letra fria da lei, em vez de interpretar o espírito do legislador”.
Ou seja, o respeito à lei depende do freguês.
Esse “jeitinho” já foi dado há 30 anos, quando Ivete Vargas “registrou” o PTB sem os documentos exigidos por lei, alguns dias antes que Leonel Brizola o tentasse fazer, este com a documentação completa.
O TSE, por artes e manhas de Golbery do Couto e Silva, a quem era essencial que Brizola não pudesse reatar o fio da história petebista que o Golpe de 64 quisera cortar, inspirou um “direito de protocolo” que entregou a sigla a Ivete quando ela, afinal, conseguiu os apoios e documentos que não tinha ao fazer o pedido de registro.
Agora, a direita faz tudo para conseguir que o Tribunal ”flexibilize” a lei e dê a Marina o partido que ela não organizou como se exige.
Não por ela, mas porque deseja que a eleição não tome, já de início, uma natureza plebiscitária, com Marina servindo de estuário a um voto de classe média arisco ao tucanato.
E que, assim, não se possa decidir no primeiro turno.
Não que Marina careça de legitimidade pessoal para ser candidata. Tem.
Mas o processo democrático é fundado em partidos e ela saiu do PV – como antes do PT – porque quis, não entrou em outro partido porque não quis e lançou esta tal Rede apenas em fevereiro deste ano porque assim o quis.
Como quis, arrogantemente, que as instituições e regras legais se abrissem e deixassem passar a “princesa da floresta” ou outro título nobiliárquico que se adeque à sua atual e pomposa condição de queridinha das elites.
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http://www.teletime.com.br/02/10/2013/acionistas-da-oi-e-da-portugal-telecom-anunciam-fusao/tt/356959/news.aspx?__akacao=1619448&__akcnt=3bada580&__akvkey=a04a&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=TELETIME+News+-+02%2F10%2F2013+19%3A25
Endereço para aqueles que acreditaram na mentira de que a OI era do filho do Lula.
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