"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



terça-feira, 1 de outubro de 2013

O MANDO E A OBEDIÊNCIA

Na história recente desse país nunca foi tão perceptível o quanto vivemos sob o ranço do totalitarismo. Se por um lado as instituições democráticas funcionam na sua plenitude, garantindo o direito pleno da livre manifestação, por outro, dentro deste núcleo, há uma forte intenção de retrocesso, como ocorrera no Brasil, no início de 1964.
Governos populares como o de Jango, Lula e Dilma, cuja característica principal é a justiça social, tornam-se alvos fáceis para aqueles que ainda insistem em viver numa sociedade excludente. Essa característica ainda é um legado da nossa cultural colonial escravista que verticalizou as relações sociais em mando-obediência e que teve como símbolo principal a Casa Grande e a Senzala.
Com a abolição da escravatura essa relação se intensificou e os mais desfavorecidos foram expulsos dos espaços urbanos pelas mãos do Estado autoritário, tudo em nome de uma higienização de interesse exclusivo das elites. Pobres e ex-escravos foram confinados em guetos, morros, sem direito à cidadania e incapazes de lutarem por seus direitos políticos e trabalhistas.
Com o aumento da pobreza nas grandes cidades, fruto do capitalismo da revolução industrial, as classes operárias intensificaram seu processo de luta e com a formação dos partidos de esquerda, principalmente o PCB, conseguiram, já na Nova República, leis que lhes garantissem melhor condição de trabalho e seguridade social.
No período pós-guerra as desigualdades se intensificaram e o Brasil só começou a respirar novos ares no governo JK, através de um projeto desenvolvimentista, mas que trouxe consequências danosas para as contas públicas, com o endividamento interno e externo.
Para superar o quadro caótico, Jango propôs as reformas de base e a reforma agrária, atiçando as forças conservadoras para a sua derrubada. Aliados ao golpe militar estavam a pequena burguesia conservadora, a sociedade industrial e os Estados Unidos que, em plena Guerra Fria, temiam que seus interesses corporativos fossem prejudicados pela aproximação do Brasil ao bloco socialista.
Foi a partir do golpe que se percebeu que a velha elite ainda determinava o destino da maioria do povo brasileiro, e com o fim dos partidos de esquerda a classe trabalhadora ficou sem armas para lutar por seus direitos. O projeto capitalista/liberal foi a ideologia aplicada pelo regime, subserviente à política econômica norte-americana, mas ruiu logo após o “milagre econômico”, com a crise do petróleo.
Mesmo com a democratização nos anos oitenta o Brasil seguiu com a ideologia liberal, mundialmente comandada por Reagan e Thatcher, época em que a desigualdade se intensificou principalmente nos países da América–latina. Endividados com o FMI e submissos aos interesses americanos, o Brasil e demais países sulamericanos, cortaram investimentos em políticas públicas, tendo como consequência um dos mais baixos IDH do mundo, nos anos noventa.
No governo Lula a postura foi de independência, tanto que foi à China, à Ásia, Leste europeu, Oriente Médio e se aproximou dos países vizinhos, diferente de FHC, que obedeceu, religiosamente, as regras impostas pelo governo americano e aliados dele.
A soberania do Brasil de Lula no mundo foi o grande salto para que a economia crescesse, que o mercado interno consumidor atingisse as camadas menos favorecidas e se investissem em políticas assistenciais, com o intuito de acabar com a fome e diminuir as desigualdades sociais.
Mas o grande mérito do Lula não foi a originalidade e sim a inspiração em Jango que há cinquenta anos adotou uma postura multilateral, aproximando-se de países de pouca ou nenhuma tradição comercial com o Brasil e, em relação à política interna, propôs as reformas de base que, com certeza, fariam desse país uma grande potência mundial.
Infelizmente perdemos cinquenta anos na nossa história com milagres econômicos sem nenhum investimento na área social e com um delírio neoliberal no governo FHC que dilapidou o patrimônio público, em nome de uma obediência às regras capitalistas lideradas pelos Estados Unidos.
Mas ainda há desafios a serem superados, além da desigualdade social. Entre eles está o ranço da subversão da Casa Grande, representados pela grande mídia, pela atuação monárquica do judiciário e pelos segmentos conservadores que ainda agregam raízes totalitárias dos tempos coloniais e das velhas oligarquias.
No entanto é preciso destacar que outro desafio está nas entranhas do próprio Estado, que é combater esse modelo contratual e hierárquico do monopólio da violência, que impede de avançarmos para uma nova era política e cultural. As manifestações de julho provaram que os atos de vandalismo geraram indignação por parte das autoridades e mídia, como uma forma de se utilizar de um discurso com o intuito de manter em ordem o sistema vigente e provocar uma cisão nos movimentos, genuinamente, reivindicatórios.
Se no seio dessas manifestações existem intenções de retrocedermos na democracia é porque há uma forte insatisfação com a forma pela qual as instituições são violentadas pelo fisiologismo político e interesse pessoal da classe que as representam. Mas, por outro lado, é preciso reconhecer que o desejo de retrocesso prova que ainda conservamos em nossas entranhas a cultura da Casa Grande e da Senzala e o desejo de manter a sua estrutura hierárquica do mando e da obediência.

5 comentários:

O Guardião do Elevado Canduca disse...

Esqueceu Getúlio Vargas????

Amigos do Jekiti disse...

Texto longo demais. Só me referi à Nova República..rsss

Anônimo disse...

Muito boa a abordagem.

Anônimo disse...

Interessante como a história se repete:
Porque o conservadorismo quer tanto a Rede de Marina?

Por Fernando Brito, no Tijolaço.

O conservadorismo brasileiro está em franca campanha para que os ministros do TSE aprovem a criação da “Rede” de Marina Silva.

Com assinaturas ou sem assinaturas exigidas pela lei, importa pouco.

Mas está difícil.

Merval Pereira, o Ruy Barbosa do casuísmo, depois de revogar os embargos infringentes por conta própria, agora quer revogar as exigências legais e lamenta que o tribunal esteja inclinado a “optar pela letra fria da lei, em vez de interpretar o espírito do legislador”.

Ou seja, o respeito à lei depende do freguês.

Esse “jeitinho” já foi dado há 30 anos, quando Ivete Vargas “registrou” o PTB sem os documentos exigidos por lei, alguns dias antes que Leonel Brizola o tentasse fazer, este com a documentação completa.

O TSE, por artes e manhas de Golbery do Couto e Silva, a quem era essencial que Brizola não pudesse reatar o fio da história petebista que o Golpe de 64 quisera cortar, inspirou um “direito de protocolo” que entregou a sigla a Ivete quando ela, afinal, conseguiu os apoios e documentos que não tinha ao fazer o pedido de registro.

Agora, a direita faz tudo para conseguir que o Tribunal ”flexibilize” a lei e dê a Marina o partido que ela não organizou como se exige.

Não por ela, mas porque deseja que a eleição não tome, já de início, uma natureza plebiscitária, com Marina servindo de estuário a um voto de classe média arisco ao tucanato.

E que, assim, não se possa decidir no primeiro turno.

Não que Marina careça de legitimidade pessoal para ser candidata. Tem.

Mas o processo democrático é fundado em partidos e ela saiu do PV – como antes do PT – porque quis, não entrou em outro partido porque não quis e lançou esta tal Rede apenas em fevereiro deste ano porque assim o quis.

Como quis, arrogantemente, que as instituições e regras legais se abrissem e deixassem passar a “princesa da floresta” ou outro título nobiliárquico que se adeque à sua atual e pomposa condição de queridinha das elites.

-

Anônimo disse...

http://www.teletime.com.br/02/10/2013/acionistas-da-oi-e-da-portugal-telecom-anunciam-fusao/tt/356959/news.aspx?__akacao=1619448&__akcnt=3bada580&__akvkey=a04a&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=TELETIME+News+-+02%2F10%2F2013+19%3A25

Endereço para aqueles que acreditaram na mentira de que a OI era do filho do Lula.

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento