"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



domingo, 6 de outubro de 2013

O príncipe, o filósofo e o poeta

Por Izaías Almada

Considerando que o reino em que vivem está à deriva, um príncipe, um filósofo e um poeta resolveram deitar falação sobre aquilo que consideram estar errado à sua volta. “É preciso estar atento e forte”, pensaram, “não temos tempo de temer a morte”... Irmanados nos versos desta canção de conhecido menestrel do mesmo grupo litero/musical, o príncipe, o filósofo e o poeta, todos sempre prontos a disputar espaços nos mais conhecidos jornais do reino, acharam por bem – do alto de sua sabedoria – botar alguns pingos nos is e descer à ágora dos sacripantas para discordar do governo e sua corte e lançar um pouco de lenha na fogueira das vaidades e das intrigas antirrepublicanas.
O povo trabalhador, de volta para casa após mais um dia de labuta, passa por aquelas figuras exóticas sem entender muito bem o que falam na ágora, mas puderam ouvir algumas frases soltas.
Dizia o príncipe envolto em seu fardão com filigranas douradas: “Marina Silva é uma reserva moral do país”... O filósofo, com cara de bravo, acenava com pedagogias democráticas: “Que ao menos fique a lição de que nenhuma invenção democrática neste país será possível sem um processo amplo, geral e irrestrito de combate à corrupção, no qual o último mensaleiro petista será, enfim, enforcado nas tripas do último mensaleiro tucano”... E como que a concordar com a animada retórica acadêmica, o poeta, de longos cabelos grisalhos, soltou o seu canto ditirâmbico: “Será que esse país tem medo de punir?”
Reserva moral, processo amplo geral e irrestrito, medo de punir, o que será que diziam aquelas sumidades, pensava a massa ignara. Alguns poucos passantes pararam para ouvir, mais pelo exotismo da cena do que propriamente pela peroração do trio.
Estava eu ali a observar todo o quadro, dividido entre falácias e sofismas de um lado e a quase perplexidade de cidadãos trabalhadores do outro, quando avistei um pouco à minha direita um senhor já de idade, atento ao discurso dos três cidadãos. Aproximei-me do senhor e perguntei-lhe se podia explicar o que diziam aqueles oradores tão empolgados e cheios de si.
O velho me olhou por detrás das lentes grossas de seus óculos, que revelavam dois olhinhos inquietos e percucientes, e disparou numa voz firme e convincente:
-Estão criticando o que se passa em nossa democracia...
-E quem são eles? Arrisquei.
-O senhor não sabe?
Considerei que fingir minha ignorância sobre tais celebridades pudesse me trazer sua opinião mais sincera, mesmo que apaixonada.
-Não, confesso que não os conheço ou, pelo menos, não conheço o que pensam.
-Ali estão um príncipe, um filósofo e um poeta, respondeu o velho senhor orgulhoso em mostrar seus conhecimentos. E vou responder em poucas palavras a sua pergunta:
-O príncipe é um senhor que conseguiu entrar para a Academia de Letras depois de pedir a todos nós que esquecêssemos o que ele escreveu, entendeu o paradoxo? Pertence a um partido político onde a honestidade está em baixa e, tal qual todo bom oportunista, resolveu puxar a brasa de uma moralidade até agora desconhecida da tal senhora que teve alguns milhões de votos na última eleição presidencial para tentar dar um respiro ao seu partido em frangalhos...
-Hum, balbuciei segurando o riso.
-O filósofo, continuou, não se sabe muito bem o que ele pensa, mas encheu-se de brios para criticar um caso de suposta corrupção ainda não esclarecido pedindo o enforcamento dos réus, sem nomeá-los, nas tripas uns dos outros, requentando uma velha e surrada expressão dos iluministas franceses que gostariam de ver o último rei enforcado nas tripas do último padre. E veja que ele, inconscientemente, usa a expressão de um general da nossa ditadura sobre abertura ampla, geral e irrestrita. Um ato falho, talvez, ou coisas de uma nova esquerda à qual ele julga pertencer...
-Com uma esquerda assim, não é preciso direita, concorda?
-O velho senhor encarou-me sem fazer qualquer comentário.
-E o poeta?
-Bem, o poeta queria saber, tal qual o filósofo, porque a suprema corte de justiça do país se acovardou numa de suas últimas decisões e, segundo, ele, esquivou-se de punir o mais rápido possível, mesmo sem provas, os tais cidadãos que merecem ser enforcados nas tripas uns dos outros... O curioso é que esse mesmo poeta disse estar arrependido de ter sido comunista um dia e que se converteu à democracia. Supõe-se que ele ainda faz parte daquele grupo de pessoas que identificam democracia com capitalismo e ditadura com socialismo... Se estiver arrependido de seus pecados deveria se confessar a um padre, não acha?
Ato contínuo, o velho senhor escafedeu-se...
Fiquei pensando se não tinha conversado por cinco minutos com o desconhecido Stanley Burburinho.

7 comentários:

Anônimo disse...

Já comprei o meu.
Fico imaginando quanta cultura inútil nas escolas, faculdades e meios de comunicação.
Como acredito na máxima " nada ficará oculto" tudo bem.

Anônimo disse...

Por Altamiro Borges
O ex-presidente FHC deve ter ficado meio desnorteado com a aliança pragmática entre Eduardo Campos e Marina Silva, que pode afundar de vez a cambaleante candidatura de Aécio Neves e debilitar ainda mais o seu decadente PSDB. Num dos seus artigos mais rancorosos, publicado neste domingo (6) no Estadão e intitulado “A responsabilidade do STF”, ele destila veneno e pede a imediata prisão dos chamados “mensaleiros do PT”. O “Príncipe da Privataria”, segundo o bombástico livro recém-lançado do jornalista Palmério Dória, posa de ético e carrasco. Patético!
Na maior caradura, ele diz que “não me movem impulsos punitivos e muito menos vingativos”, mas não perdoa a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de conceder o direito aos embargos infringentes aos réus do processo. Falando em nome da sociedade, logo ele que foi rejeitado nas três últimas eleições presidenciais e até descartado por seus correligionários tucanos, FHC garante que “é óbvio que existe nas ruas um sentimento de dúvida, quando não de revolta, com os resultados ainda incertos do julgamento”. Para ele, o povo exige justiça!
“Mesmo sem conhecimento jurídico, a maioria das pessoas formou um juízo condenatório... A opinião pública passou a clamar por castigo. A decisão de postergar ainda mais a conclusão do processo, graças à aceitação dos ‘embargos infringentes’, caiu como ducha de água fria. Por mais que o voto do ministro Celso de Mello tenha sido juridicamente bem fundamentado, ressaltando que o fim dos embargos infringentes no STF foi recusado pela Câmara dos Deputados quando do exame do projeto de lei que suprimiu esses embargos nos demais tribunais, ficou cristalizada na opinião pública a percepção de que se abriu uma chance para diminuir as penas impostas”.
Para o “ético” FHC, caso este abrandamento ocorra “estará consagrada a percepção de que ‘os de cima’ são imunes e só os ‘de baixo’ vão para a cadeia”. Neste sentido, o ex-presidente exige pressa nas condenações. “Pessoalmente, não me apraz ver pessoas na cadeia. Mas isso vale para todos, não só para os políticos ou para os do ‘andar de cima’. E há casos em que só o exemplo protege a sociedade da repetição do crime. A última decisão do tribunal agrava a atmosfera de descrédito e desânimo com as instituições”.
No passado recente, o “príncipe da Sorbonne” já pediu para esquecer o que escreveu. É bom guardar o artigo de FHC publicado hoje no Estadão. Se, de fato, houver Justiça no Brasil, um dia ainda será julgado o escândalo do “mensalão tucano” – que a mídia chama de mensalão mineiro. Com base na farta documentação apresentado no livro “A privataria tucana”, do premiado jornalista Amaury Ribeiro Jr., também será apurado como se deu o criminoso processo de privatização no reinado do ex-presidente. E outro livro indispensável, “O príncipe da privataria”, de Palmério Dória, servirá de base para as investigações sobre a compra de votos para a reeleição do “ético” FHC. Haja cinismo!
Altamiro Borges: FHC e a ética do príncipe da pirataria

Anônimo disse...

Altamiro Borges comenta a ética dos conservadores fundamentalistas:
Criador da reacionária União Democrática Ruralista (UDR), que defende os interesses do latifúndio e rechaça a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) contra o Trabalho Escravo, Caiado agora propõe “acabar com o maniqueísmo” e “estabelecer pontos de concórdia”. Será curioso vê-lo ao lado de Marina Silva nos palanques de Eduardo Campos. A ex-verde – que se arrogava defensora do “novo na política” e do fim das alianças espúrias e pragmáticas – também terá outras companhias inóspitas e constrangedoras na campanha presidencial de 2014.

Paulo Bornhausen, secretário de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Santa Catarina e filho do “banqueiro” Jorge Bornhausen – um dos símbolos do conservadorismo no país – também comemorou a filiação de Marina Silva ao PSB. “Em nível estadual, pouco muda com sua vinda. Já no nível nacional, uma terceira via se fortalece. Iremos trabalhar para que a disputa não fique polarizada entre PT e PSDB, como sempre esteve nos últimos anos. A ideia é apresentar uma alternativa, uma via que se diferencie dessa velha política que os dois partidos estão fazendo”.

Anônimo disse...

Altamiro Borges comenta a ética dos conservadores fundamentalistas:
Criador da reacionária União Democrática Ruralista (UDR), que defende os interesses do latifúndio e rechaça a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) contra o Trabalho Escravo, Caiado agora propõe “acabar com o maniqueísmo” e “estabelecer pontos de concórdia”. Será curioso vê-lo ao lado de Marina Silva nos palanques de Eduardo Campos. A ex-verde – que se arrogava defensora do “novo na política” e do fim das alianças espúrias e pragmáticas – também terá outras companhias inóspitas e constrangedoras na campanha presidencial de 2014.

Paulo Bornhausen, secretário de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Santa Catarina e filho do “banqueiro” Jorge Bornhausen – um dos símbolos do conservadorismo no país – também comemorou a filiação de Marina Silva ao PSB. “Em nível estadual, pouco muda com sua vinda. Já no nível nacional, uma terceira via se fortalece. Iremos trabalhar para que a disputa não fique polarizada entre PT e PSDB, como sempre esteve nos últimos anos. A ideia é apresentar uma alternativa, uma via que se diferencie dessa velha política que os dois partidos estão fazendo”.

Fortunato disse...

Luiz depois de ler o seu texto - muito bonito, eloquente e inspirado - lembrei-me de um poema do Pablo Neruda.


Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
Pablo Neruda

Parabéns pelo belo texto

(Natinho)

Anônimo disse...

SABEDORIA ÁRABE E A ESPIONAGEM (FOBIA) AMERICANA.
Recebi e passo para frente.

Un viejo árabe vivía en Idaho, Estados Unidos, desde hacía 40 años. . .

Quería plantar patatas en su jardín, pero arar la tierra ya era un trabajo muy pesado para él.

Su único hijo, Ahmed, estaba estudiando un postgrado universitario en Francia.

Entonces el anciano decide mandarle un correo electrónico explicándole el problema:

- Querido Ahmed:

Me siento mal porque no voy a poder plantar mis patatas este año.

Estoy muy viejo para arar las parcelas.

Si tú estuvieras aquí sé que voltearías la tierra por mí.

Que Alá esté contigo.

Te quiere, tu Papá.

Al día siguiente recibe un correo electrónico de su hijo:

- Querido Papá:

Por todo lo que más quieras, no revuelvas la tierra del jardín. Ahí es donde tengo escondido "aquello".

Te quiere, Ahmed.

A eso de las cuatro de la madrugada, aparecen la Policía local, agentes del FBI, de la CIA y representantes del Pentágono (que tenían intervenidas las vías de comunicación) y que dan vuelta a ¡¡¡toda la tierra del jardín!!! buscando materiales para construir bombas, Ántrax o lo que sea . . . .

Pero, no encuentran nada y se van.

Ese mismo día el hombre recibe otro correo electrónico de su hijo:

- Querido Papá:
Seguramente la tierra del jardín ya está lista y podrás plantar tus patatas.

¡¡¡Es lo mejor que pude hacer desde acá!!!

Te quiere, tu hijo Ahmed.

Fortunato disse...

LH coloquei errado - epa.. - o meu comentário, é para ser no texto dos seus avós.

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento