"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A ODISSÉIA DA PATRULHA TOURO

UM NATAL EM RIBEIRA

Partiram de Epitácio Pessoa por volta das 07h: 30min. Seguiram pela estradinha de terra com os olhos grudados nos vários monjolos que se estendiam pela estrada. As pessoas que moravam nas pequenas propriedades os acompanhavam de suas janelas, com os olhos curiosos, como se ainda estivessem em plena Revolução Cosntitucionalista. 
Por volta das 11h00min pararam em um descampado para almoçar e, depois de um breve descanso, seguiram com o intuito de passarem a fronteira que divide o Paraná de São Paulo.
As 14h30min passaram pelo lugarejo de Barra Grande e uma hora depois chegaram à rodovia federal, Margeando a estrada seguiram com destino a Paranaí. Depois de três léguas de dura caminhada, chegaram à fronteira dos dois estados e ali avistaram uma enorme placa com a frase: SEJAM BEM-VINDOS AO PARANÁ, TERRAS DOS PINHEIRAIS.
Alguns metros depois encontraram um posto fiscal, onde pararam para conversar com os funcionários. Serviram-se de chimarrão e, enquanto falavam sobre a missão, diviam sua atenção entre os fiscais e o intenso movimento da rodovia. Manduca disse que desde que saíram de Antonina, há oito dias, não via um veículo motorizado.
Chefe Beto, atento ao horário, informou aos comandados que tinham que continuar a caminhada para chegarem a Capela da Ribeira antes do anoitecer. Despediram-se dos fiscais, mas antes de seguirem, Canário propôs a todos que deveriam entrar em território paulista com o pé direito. Assim o fizeram e seguiram, margeando a movimentada rodovia...
Assim que eles chegaram a Capela da Ribeira, foram à Prefeitura Municipal e lá souberam do chefe de gabinete do prefeito que a cidade se chamava Ribeira, um município da Comarca de Apiaí, São Paulo. Chefe Beto, imediatamente, olhou o mapa e pediu maiores esclarecimentos sobre a região, já que a tropa deveria seguir na manhã seguinte com destino a Apiaí. O Secretário Municipal também informou que a localidade de Epitácio Pessoa, por onde passaram no dia anterior, passou a se chamar Paranaí, território ligado a Bocaiúva do Sul, Paraná.
Chefe Beto sentou e reuniu a tropa para analisarem o mapa e depois das necessárias correções, disse aos quatros comandados que na manhã seguinte caminhariam com destino a Apiaí. Percebendo o estado deplorável em que os cincos se encontravam, o senhor secretário convidou-os para passar mais um dia em Ribeira e participarem das festividades de Natal. Sem hesitação chefe Beto aceitou, mas antes pediu ao secretário onde havia um posto de telégrafo para passarem uma mensagem a Antonina. No exato momento em que se dirigiam à porta, o estafeta dos Correios entrou com dois telegramas endereçado ao chefe Beto - um era da Prefeitura Municipal de Antonina e o outro do chefe Manoel Picanço – nos quais demonstravam preocupação com o estado de saúde dos cincos comandados e pediam informações sobre a missão.
Imediatamente chefe Beto redigiu as informações e os demais escreveram para suas famílias. Assim que o estafeta saiu com as mensagens o secretário os convidou para conhecerem a casa que pernoitariam e ainda os convidou para irem à Missa do Galo...
De banho tomado, eles saíram para conhecer a cidade e conversarem com a população. Na praça Lydio conheceu uma moça de nome Yolanda. Ela tinha cabelos negros, olhos escuros e gestos delicados. Enquanto o casal conversava, os demais, metros de distância, tentavam desmantelar a lisura de Lydio com alguns sarcasmos, Mas Lydio permanecia fiel à moça e não desvia o olhar dos olhos vacilantes da moça. De repente Yolanda olhou as horas e se despediu de Lydio, sem deixar esperança, seguindo veloz na direção de casa. Os demais se aproximaram e dispararam alguns gracejos contra o amigo, que amuado, preferiu se sentar em um banco e acompanhar os casais passeando na praça.
No dia seguinte acordaram tarde e foram ao Rio da Ribeira para se refrescarem. Ao meio dia almoçaram e depois de um pequeno descanso, saíram para a última visita a cidade. Beto foi ao alfaiate consertar a calça do uniforme que rasgara durante a caminhada, enquanto os demais resolveram andar de bicicleta pela redondeza. Durante o passeio eles se espantaram com os buracos das balas nas paredes da antiga igreja. Manduca parou sua bicicleta e olhou, estarrecido, como se não acreditasse no que seus olhos miravam. Os amigos o chamaram e ele, seguiu, mas sem esquecer daqueles que tombaram durante as batalhas da Revolução Constitucionalista de 1932.
Depois da janta eles arrumaram seus pertences e se despediram da cidade de Ribeira, sob os olhares atentos da população. Alguns habitantes os acompanharam, até os cinco se perderem no breu da noite. Com as lanternas acesas eles seguiam, em fila indiana, mais confiantes, na direção de Apiaí. Chefe Beto seguia na frente, altivo, com os olhos atentos para a margem da estrada estreita. Logo atrás, Milton se certificava de que não havia deixado nenhum material em Ribeira; Manduca e Canário, olhavam o céu, a busca de estrelas, enquanto Lydio, pensava em Yolanda, tentando acomodar no peito a saudade por ela.

Um comentário:

Edson Negromonte disse...

Valeu outra vez, Luiz! Parece que você foi testemunha ocular da caminhada da Patrulha Touro. Parabéns pelo belo texto.

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento