"Monocrômica, anacrônica, atraente, arcaica Antonina, não amo-te ao meio, amo-te à maneira inteira."
Edson Negromonte.



domingo, 10 de outubro de 2010

A MÍDIA É UM PARTIDO POLÍTICO?

Hoje li no portal UOL Roberto Civita declarar seu apoio a José Serra, seguindo a mesma premissa do Estado de São Paulo. Segundo o mandatário do Grupo Abril, José Serra tem mais preparo para exercer o cargo maior do país que Dilma Roussef. O fato de Civita apoiar Serra não é o problema e sim a forma pela qual ele vem atuando como instrumento da desinformação. Outro fator é como Civita atuará em relação aos que trabalham em suas empresas e que votam em Dilma. Como ele declarou seu apoio à candidatura de Serra, provavelmente deverá atuar sobre seus comandados através da reportagem do cabresto.
Como a Constituição Federal garante a liberdade de imprensa, Civita está exercendo seu direito legítimo e assim deve ser. Acontece que este direito tem características dualistas, pois ao mesmo tempo em que ele exerce seu direito legítimo, nega a liberdade expressão se algum dos seus jornalistas cometerem algum "delito" de opinião. Uma imprensa que é parcial, não é livre, pois se fundamenta apenas pela unilateralidade, impedindo que o leitor contextualize os fatos e tire conclusões erradas pelo que fora propagado pelo meio de comunicação.
Como exemplo, a colunista do jornal o Estado de São Paulo, Maria Rita Kehl, foi demitida da empresa por escrever em sua coluna um artigo, em que defende o Bolsa Família e aponta, entre outras coisas, que a elite desqualifica o voto do pobre. Neste artigo, publicado em 02/10, Maria Rita, ainda enfatiza a honestidade do jornal em declarar seu apoio a Serra por achar que a discussão fica mais honesta. Mas, a meu ver, essa honestidade colocada por Maria Rita, não qualifica a atitude do jornal como digna, pois as matérias editadas pelo veículo não garantem sua veracidade. Isso seria a mesma coisa que o delito em si deva ser desconsiderado, pelo simples fato de o deliquente tê-lo declarado.
Vejam um fato. Globo e Record fizeram uma reportagem em que Serra vistoriava um trecho de rodovia. A Globo não mostrou a manifestação de moradores que cobrava providências sobre problemas num trecho da estrada, enquanto a Record, na mesma reportagem, mostrou o protesto e foi mais além, permitiu que os telespectadores tivessem acesso a todas informações sobre a obra. (vide postagem Protesto na Record... e na Globo?)
Outra situação foi a divulgação pela Folha de São Paulo, no editorial “A Mesma Síndrome” e na análise "Texto da Casa Civil já é peça simbólica da radicalização do final da campanha" (Eleições 2010, 15/9), de que José Dirceu, numa palestra a petroleiros da Bahia, declarou que no Brasil há “excesso de liberdade de imprensa”. Pelo equívoco a Folha, quinze dias depois, obrigou-se a publicar uma errata reformulando o publicado no Editorial OPINIÂO e no Caderno Eleições 2010, de 15/09 (vide abaixo da postagem).
Portanto, na minha ótica a escolha de Civita e Estadão, por mais que legitima, é um retrocesso, pois presta um desserviço à democracia, pois impedem que todos os leitores tenham acesso à informação e isso, para mim, se configura pela manipulação da notícia. Os princípios democráticos são caracterizados, entre outras coisas, pelo amplo direito do cidadão de ter acesso irrestrito à informação e, com base nela, desenvolver seu senso crítico. Esse posicionamento de Veja e Estado de São Paulo, dão à sociedade uma condição de incerteza, por conta da manipulação da notícia e pela falta de compromisso, em tese, com a verdade, e isso, para mim, se caracteriza como a precariedade da informação, motivada pelos interesses pessoais, econômicos e político dos líderes de cada grupo.

"OPINIÃO (19.SET, PÁG. A2) Diferentemente do publicado no editorial "A mesma síndrome" e na análise "Texto da Casa Civil já é peça simbólica da radicalização do final da campanha" (Eleições 2010, 15/9), José Dirceu não disse, durante encontro com petroleiros na Bahia, que há "excesso de liberdade de imprensa" no país. A frase incorreta constava de relatório sobre o encontro distribuído à imprensa pelo PT da Bahia."

Um comentário:

Antonio disse...

FHC foi a locomotiva do projeto neoliberal. Durante seu governo, os trabalhadores foram arrochados ao máximo, perderam dezenas de direitos, empresas públicas foram privatizadas em verdadeiros crimes de lesa pátria, o patrimônio da nação foi dilapidado. Sua idéia era a de estado mínimo para os pobres e estado total para os ricos. Representava a elite selvagem, capaz de saquear o próprio país sem qualquer abalo moral. Na sua testa poder-se-ia pregar o nome “bussines” (negócio, em inglês), sem medo de errar. Basta pesquisar as mobilizações populares no governo de FHC para se perceber os golpes dados contra o país.
O governo Lula assomou em 2003 com a promessa de mudança. Ao longo dos tempos foi fazendo composições e concessões com a elite produtiva do país. No seu governo os ricos ganharam muito, mas, na linha da social democracia, ele também trabalhou na outra ponta. O Bolsa família levou comida a milhões de famílias, criou vagas nas universidades, criou 14 novas universidades públicas, melhorou o salário mínimo, alavancou a vida da classe média, abriu crédito, praticou uma política externa de aproximação com a América Latina, coisa nunca feita antes. Claro que o governo Lula não significou qualquer avanço no projeto socialista. E ele nunca se propôs a isso. Talvez por isso tenha se tornado palatável a parte da elite local. As críticas feitas a todos estes projetos citados acima sempre foram contundentes. O bolsa família ainda não avançou para um processo de libertação, as universidades novas ainda carecem de qualidade, as vagas universitárias foram para a privadas, e toda uma sorte de outros pontos que poderíamos citar, e já o fizemos em vários outros artigos. Mas, mesmo dentro da lógica do capital, o governo Lula foi melhor que o de FHC.
Assim, se o processo que inicia agora rumo ao segundo turno é um plebiscito sobre propostas de governo, é preciso clareza. Serra representa o atraso, o conservadorismo, a elite insaciável e entreguista, capaz de qualquer coisa para sangrar as riquezas nacionais em benefício próprio e incapaz de conceder um mínimo que seja à população. Dilma representa o chamado “capitalismo humanizado”, que concede à elite, mas busca atender aos de baixo, em políticas assistenciais, programas sociais e políticas públicas. Dilma não é socialismo e muito menos a ameaça comunista, pode chegar a social democracia, garantindo privilégios, mas distribuindo melhor a riqueza. Já o Serra não é social democrata, apesar de isso estar no nome do seu partido. Ele é o vampiro das elites.
Ao povo, que no geral sabe muito bem das ínfimas diferenças que existem entre os candidatos, valeria uma reflexão. Estudar as ações de cada grupo em vez de dar voz a argumentações morais e pessoais que só reduzem a vida política ao ridículo. A eleição, enfim, não é “a mãe de todas as batalhas”, mas, nessa conjuntura, ela pode definir o futuro. A grande política pressupõe análise da realidade e propostas de superação. O socialismo pressupõe mais trabalho entre as gentes. Há que se voltar ao trabalho de base, coisa praticamente esquecida pelos partidos políticos que, na sua maioria, entraram na lógica do institucional. Há que voltar às ruas, aos bairros, às estradas barrentas da vida real, para construir desde baixo o sonho da sociedade justa, igualitária, fraterna e cooperativa.
Enquanto isso não acontece, não se pode retroceder. Sem volta atrás…

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento

O JEKITI NOS ANOS 60 - foto do amigo Eduardo Nascimento